Foi durante o Reinado de uma dita rainha Sofia, que Ornat Tebunah, um conde de mérito, estabeleceu, isolando-se na sua moradia, o seu próprio lugar no mundo, com imunidade por qualquer dos seus feitos.
Tido, primeiro, como poeta de alta qualidade e artista-mor do seu próprio cabaré, tanto nas artes musicais como no desempenho teatral em palco, este foi então procurado pelas muitas almas perdidas que vagueavam sem razão ou estrela guia, na procura do auto-conhecimento.
I
Entre o lusco-fumo da bruma da demência do sono e do estado desperto, Ornat fez-se notar na porta aberta que permitia brancura entornar-se e mesclar-se em ares de meia-luz, pela sua ampla casa, e movendo-se pouco, da sua beliche real observou a mulher de cabelo carmesim selvagem, no seu rosto arredondado, decorado de dois bonitos olhos tamanhosos, e de um corpo carnudo sem ainda a mácula da glutonisse.
“Psst”, chamou. Falando baixinho, porque os habitantes da casa, em retiro, se deixavam ainda inebriados pela sonolência, a mulher balbuciou qualquer coisa como o seu desejo de marcar um tempo a sós com o aristocrata. Por entre o seu cabelo negro, que se aparentava, sempre, húmido, os olhos azuis-escuros não largaram a mulher durante um momento mudo. “Minha senhora, afirmo que traz consigo o cheiro citadino das maquinas de lata e da pestilência dos muitos moribundos, pedintes do dia-a-dia, e porém não inteiramente, o cheiro de uma mulher. Alguma vez provou uma?” Calada, ele percebeu o seu não, e, expirando o cansaço provindo do seu descanso, desceu a degraus lentos do seu leito. Tomou o braço da senhora perfumada, e levou-a para a cama a seguir à sua. Através de lençóis escuros e transparentes, ela observou um corpo feminino, seios perfeitamente redondos, em copa, miraculados de mamilos doridos e encarnados, abdominais mais macios e ondulados do que as areias desérticas, coxas alvas, capazes de eclipsar a graciosidade do cisne, os pés sensualmente almofadados, lábios sequiosos, pestanas adormecidas num qualquer sonho erótico, cabelo áureo, faces tenras e coradas. “Mas, senhor, não está ainda na hora de abrir a casa. Voltarei mais tarde, dos meus afazeres.” Puxou, procurando libertação. Sossegadamente, ele sentou-a primeiro, passando os seus dedos por detrás da sua orelha, então, com as duas mãos envoltas na sua cintura, deitou-a. Beijou-lhe a face ao frémito da respiração tremeluzente. E tomou forma outra, corpo nu, pontiagudo de concupiscência, deixou os dedos, a perna barbeada e o joelho acima, percorrerem a fragilidade da mulher até ao centro púbico, passando à de leve brisa de borboleta o seu toque mágico de mão, passeando-a em pequenos furacões pelo peito e pelo pescoço desprotegido. Ao lado, a mulher despertava, gemendo entre os mundos. Ornat ergueu-se, voltando, como uma fera antes camuflada, à sua forma habitual. A mulher, suplicante, repleta de desejo e sentindo o cheiro aos fluidos nocturnos daquela que ali prolongara a noite, fitou-a, com o olhar de uma presa imersa no seu destino. Ornat, deixando o compartimento, sussurrou para si mesmo “É política da casa deixar-se algo, quando nela se entra”.
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