Uma lei de confluência moral sistematiza-se e articula-se de modo a fazer pensar que, aquele que foi imoral, terá por fim a boca do verme no apodrecimento da carne e que o que, ao longo da sua vida, permaneceu a salvo das imprudências, será recebido nas palavras cantadas dos santos.
Aí, são as bocas dos santos que nos consomem o invólucro e a prisão corporal, à imagem de que, os vermes, que em verdade, nos devoram o cadáver, pareceriam em vez simbolizar a degeneração da alma.
No entanto, depois da morte, o santo volta sempre ao mundo na forma de verme; e se um homem nasce santo, é o verme que nasceu no interior que o faz santo.
Por exemplo, em detrito antagónico, a transformação do verme em borboleta não significa a mutação de um pecador em redimido, mas sim a metamorfose de anjo para a forma de cobra. Justificamo-lo no facto da vaidade da borboleta, intencional ou desprovida de intenção, todavia notada por todos os olhares, e conduzida para a chama para a sua consumição no fogo diabólico, como todos os empreendimentos dos quais paixão e vaidade tolda a prudência e utilidade.
A chama que a consome, e a boca dos santos, não diferem, porque a chama, vista de dentro, é uma e a mesma com a boca dos vermes. Não é nada como a boca dos vermes, mas como o orgulhoso estandarte de reis, do ponto de vista exterior.
É de notar que estes fogos condecoram o orgulho como as penas decoram a vaidade do pavão, e no pavão, que por conveniência relacionarei a Melek Taus, tudo seduz, Senhor das Luzes que deseja um mundo à sua imagem e por conseguinte imortal. O motivo da civilização nasce neste ponto, pelo qual é educada. E, utilizando a conveniência metafórica do Senhor das Luzes, o seu trabalho principal consiste das civilizações, à medida que o deserto (enquanto os impérios erguem e quedam) lhe é permanente habitação (mesmo nas cidades) e reino, onde nem Deus daria entrada, ou onde não seria permitido entrar senão pela consciência do Ente mencionado. E se por um lado Deus não poderia ultrapassar as barreiras e os limites desse deserto e habitar com Ele, por outro, todos os santos ousam e têm necessariamente de ousar a travessia.
As bocas e os braços de Deus são os vermes, e, à medida que o Senhor do Mundo labora em direcção ao infinito e à imortalidade da vida e do conhecimento, o labor das mil bocas dos vermes é destruir o mundo, de encontro à pureza primordial e absoluta de todas as coisas. Deus faz o mundo acabar permanentemente.
O santo, que atravessa o deserto, é símbolo à crucificação na mesma medida em que esta não diferiria do voo da mariposa e da borboleta em direcção ao fogo. Assim é com os homens que ousam, porque o verme, nunca notado, se assemelha a um anjo invisível, e a borboleta colorida a um diabo dançarino e a um fogo-fátuo. Não obstante, no momento em que a borboleta penetra no fogo que a atrai, aí a sua existência exterior quebra e mostra-se frágil, consumindo-se. O fogo que antes a atraía pelo exterior e no qual se queima presentemente pelo interior, são as luzes e as luzes a ilusão e os sonhos inquietos da escuridão: este fogo, que era externo, tornou-se interior, e por isso é deserto. Não esqueçamos a chama que consome, no interior, como a boca dos vermes e que se tornou pois na aparência exterior da borboleta por sua vez consumida, e é assim que iluminam o Mundo com o Fogo Negro.
A caveira de cada santo sepultado é pois análoga ao lampião que permanece nas torres mais altas do mundo.
O problema da Torre de Babel é que foi construída para cima, em direcção ao mundo dos reflexos, e não para baixo, onde se encontram as estrelas.
Construir uma torre que alcance as alturas, é semelhante ao voo da borboleta, a cova é o trabalho do verme.
Construir uma cova para alcançar as alturas, e uma torre alta para tocar as profundezas, é o trabalho do Mago.
-
e Jamais
Sem comentários:
Enviar um comentário