quarta-feira, 4 de março de 2009

Klimt









Era um dia em que o Anjo, ao lado da minha cama molhada de suor e encharcada de escuro, tinha uma sombra embuçada que se dobrava, como um animal que fareja à procura de morte. O meu tecto era a Noite. Ele dobrou-se sobre o meu peito para me devorar o coração, soube vê-lo espelhado no canto do olho. Quis voltar-me para mim: "shhh" foi a resposta da sombra do Anjo. "Se retirares agora o teu olhar das estrelas, a tua alma será lesada para sempre."

O veneno da serpente é os leões. A porta abre-se sempre para os dois lados simultaneamente. Dentro da câmara, o meu corpo flutua, o seu peito aberto num coração que eclodiu, o meu corpo gira em volta do coração suspenso no ar. Existe sangue, as paredes escorrem tinta negra numa nota de suicídio:
"Soltei um Leão"
Existe muita luz, nesta escuridão, e por isso os homens encandeiam-se com a bruma.
As palavras voltam-se contra a voz. Mata-me, amor, para que a voz viva.
Lenha, todos aqueles que mais amei, lenha, tudo aquilo que mais amei, fogo.
A letra da Voz é a cinza.

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