quarta-feira, 4 de março de 2009

Clássicas II



Chopin, Nocturne, opus 27 #2

http://www.youtube.com/watch?v=asDXpfFMKNA&feature=user

Junto ao rio Tejo, num banco informe, vejo as minusculas ondas palpitantes num ritmo único, e lembro-me da cor safira que os nossos olhos ganhavam quando se entrecortavam e se faziam mais que dois por um serem. Penso nas ideias belas que o homem solta do cérebro. Na dança das imagens que rodopiam em redor das coisas do amor, quer numa casa sózinho que é quarto de pensão nas memórias brancas da solidão acompanhada, quer nos instantes de dois junto ao mercado do Porto populado de pombos. As tuas unhas na minha pele e o vinho bebido que soltavam. A minha dor na pele que era um conforto do fermento da tua pele. A Lua que acompanha o sonhador abandonado de uma tarde finda. A calunia da mortalidade em tudo o que é imortal e saber dança-lo em passos de alma. A tristeza das coisas que foram alegremente fundas e se esquecerão para sempre de deixar de ser. Iluminas-me no meu canto escuro, porque a noite chegou e o rio é a espessura da isolação que corre. Iluminas-me no meu singelo cantar. A minha voz cheia de ti. Por isso sei agora que sou só eu e eu só, que sou completo.







Modigliani (THEME) - Original Theme Song - My Reason


http://www.youtube.com/watch?v=RqWqwKRqUfk

Um homem caminha, contra o vento oco lançado na noite, os seus olhos humidos de emoção, prosseguindo quase arrastado e a sentir impossivel o desfeche, embora nada tão fluido. Leva um caderno na mão, debaixo do braço, e sente solene a presença das palavras, as ultimas memórias do amor esmagadas contra as folhas. Tudo vai continuar lá, como antigamente. Só ele morrerá como uma brasa que, arrancada à fogueira, se quis salvar e que hoje fumega os fantasmas do passado mas chora a eternidade ainda presente.

Um abraço. Que ele dá. Independentemente de tudo.









Gothic piano Volume IV – Ethrendas

http://br.youtube.com/watch?v=nja76tnUv5Q&NR=1

Ela cresce contra o céu apertado da noite, quebra os ovos da percepção, e inunda o tempo de fogo. O futuro abre os olhos e cria para trás. Molhamo-nos na corrente de flama e dançamos os amores passados. A memória como um pilar de força, e as nossas palavras a beijar a existência.

A vida num instante e o instante nas abobadas do teu olhar fixado nas prateleiras dos meus sonhos. As tuas mãos são o meu coração e os teus lábios a minha garganta bebida. Sentir que nunca mais partiremos, e que nem a terra nem a lua são um lugar de verdade. Que o tempo não é uma passagem.

O teu rubor é o meu sangue, a tua palidez a brancura de mim vertida, o teu sorriso o punhal do meu viver.

Sem comentários:

Enviar um comentário