I
Neófito,
A quem olhaste, quando, pela primeira vez, se abriram os teus olhos?
O deserto, a primeira coisa. O deserto foi a primeira coisa que tocou os teus olhos.
Néofito ! Sobre o que caminhas?
Quem te fornece a fome da qual extrais a voz dos anjos?
Quem é o teu pai?
O deserto.
E se o vendaval da noite rasga a areia
E, a areia engole o Sol no seu abraço incandescente
No seu oceano de gelo
Tu és o seu filho.
II
E neófito,
É na pedra que encontrarás exemplo,
Ela não cresce, não pode ser comida,
Nem mesmo bebida
Ela nada pede,
A pedra é perfeita
Como as coisas sozinhas podem ser perfeitas.
III
Meu neófito,
Consegues ver o cantil?
E agora o meu turbante?
O cantil não é um turbante
E nem o turbante procura ser cantil,
No mundo, cada coisa é o seu objecto.
Mas tu, tu pertences ao Anjo
E no mundo disfarçarás o cantil, o turbante,
O assassino, o curandeiro,
E todas as coisas roubadas.
Por isso, sempre que o Sol Nasce,
Deves subir a duna e sauda-lo
Porque o Sol se mascara de tudo o que a luz
Atinge, e não se divide.
Dorme então e sonha
A multiplicidade das formas,
Mas quando o beijo frio da Noite
Tocar a terra, vigía
E alimenta-te do silêncio da morte,
Só assim permanecerás no Mundo.
IV
E só, neófito,
Quando o cabelo prateado
Com que vieste à bruma
Se tornar fraco e quebradiço,
E o teu riso poderoso
Como o fim do uni-verso
E souberes de cor
Os segredos do vento
Deverás tu ensinar
Os filhos dos homens
E devorar os seus vícios
Na boca do deserto.
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