segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Niilismo Místico, a Estética e a Beleza





Carpocrates - Gnóstico Alexandrino

De bases platónicas e influências cristãs, ensinava-nos Carpocrates da existência de um primordial, e que anjos, muito afastados desta fonte, contrairam a doença da criação (divisão), numa espiral descendente rumo à decadência. Estes Construtores-do-Mundo aprisionaram as Almas Caídas, o princípio primordial em cada um de nós, em túmulos de carne e osso, e por isso as Almas percorrem a forma e experimentam a metamorfose. O Adversário é o Mensageiro entre o Homem e o Primordial por via do Juíz (o mais alto entre os poderes criadores). O mundo não foi criado por Deus mas é uma sombra da sua Luz e em si mesmo, não é bom nem mau, é totalmente indiferente a e despido de valores. A forma do homem se elevar acima dos seus próprios dejectos é fazer a alma lembrar-se, abrindo os olhos, através das várias experiências que descrevem a vida.



Nikos Kazantzakis e o Niilismo Heróico


"Não espero nada. Não temo nada. Sou livre"
-em grego: Δεν ελπίζω τίποτα. Δεν φοβούμαι τίποτα. Είμαι ελεύθερος

"Eu sou o marinheiro de Odysseus com coração de fogo mas de mente cruel e limpa."
- Toda Raba (1934)

"Sou fraco, efêmera criatura feita de barro e sonho. No entanto, sinto todo o poder do universo a girar dentro de mim."


Do "The Saviors of God" (1927; Versão inglesa 1960):

We have seen the highest circle of spiraling powers. We have
named this circle God. We might have given it any other name
we wished: Abyss, Mystery, Absolute Darkness, Absolute Light,
Matter, Spirit, Ultimate Hope, Ultimate Despair, Silence.
We come from a dark abyss, we end in a dark abyss, and we call the luminous interval life.


A expressão “niilismo heróico” tem sido usada com total aceitação pelos críticos de Kazantzakis, para designar o niilismo activo de Nietzsche aplicado às obras de Kazantzakis. A substituição do termo “activo” por “heróico” deve-se à presença da força dionisíaca na descrença em relação aos valores do mundo. O princípio do niilismo heróico fundamenta toda a peregrinação ascensional do texto de Kazantzakis. O herói, tal qual Zaratustra, empreende um itinerário activo, calcado na auto-superação e na instituição de novos valores auferidos por essa superação. Cada etapa da jornada tem o carácter niilista de não se crer em nada, de escapar das imposições morais e conceituais que dificultam a libertação. Toda a ascese protagonizada por Ulisses é um tratado de libertação de todas as máscaras culturais e valores, sejam metafísicos ou platônicos, pisando nos degraus da não-crença.
O herói é o autor dessa subida, inaugurando um combate perigoso, que o deixa sempre à beira do abismo, por travar a luta entre o mundo socrático – ou ainda cristão – e o mundo dionisíaco. O herói irrompe da própria natureza e concentra em si tudo que é vital e instintivo.
Diante do abismo e pisando nos degraus do nada, o herói ainda combate e não esmorece. O niilismo heróico vê-se nessa vontade de potência, vital, de criar ou recriar o que o herói vai destruindo a passos transvalorizadores.

(...)

Assim, como edificar um novo mundo sem bases para a sua fundação? Como cantar as glórias de um herói que almeja o esquecimento e a perda do seu nome? É deste modo que a epopéia moderna de Kazantzakis, apesar de lançar-se como um canto de restauração do mundo épico perdido, guia-se pela relação entre o cantar (fazer poético) e o pensamento (verdade). Visão subjetiva e criativa, o pensamento é o próprio acto de engendrar e de constituir o discurso da verdade, porém perecível e dissolúvel como a vida. Assim que se dissolvem os laços vitais, apagam-se o pensamento, o mundo, a criação; a verdade constituída pelo poeta (cantor) morto retorna ao nada, e assim alcança ele a real libertação, mais além da necessidade de criação e verdade.

Carolina Bernardes


Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! — NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.



“Esse ponto de contacto interior, apesar de toda a sua importância, não é, entretanto, mais do que um ponto. Após o longo período de materialismo de que ela está somente a despertar, a nossa alma encontra-se repleta de germes de desespero e de incredulidade, prestes a soçobrar no nada. A esmagadora opressão das doutrinas materialistas, que fizeram da vida do universo uma vã e detestável brincadeira, ainda não se dissipou. A alma que volta a si permanece sob a impressão desse pesadelo. Uma luz vacilante brilha tenuemente, como um minúsculo ponto perdido no enorme círculo da escuridão. Essa luz fraca é apenas um pressentimento que a alma não tem coragem de sustentar; ela pergunta-se se a luz não será o sonho, e a escuridão a realidade. Essa dúvida e os sofrimentos opressivos que deve à filosofia materialista distinguem a nossa alma da alma dos primitivos. Por mais levemente que se lhe toque, a alma soa como um vaso precioso, que se encontrou rachado na terra. É por isso que a atracção que nos leva ao primitivo, tal como o sentimos hoje, só pode ser, sob sua forma actual e factícia, de curta duração.

Salta aos olhos que essas duas analogias da arte nova com certas formas de épocas passadas são diametralmente opostas. A primeira exterior, será sem futuro. A segunda é interior e encerra o germe do futuro. Após o período de tentação materialista a que aparentemente sucumbiu, mas que repele como uma tentação ruim, a alma emerge, purificada pela luta e pela dor. Os sentimentos elementares, como o medo, a tristeza, a alegria, que teriam podido, durante o período da tentação, servir de conteúdo para a arte, atrairão pouco o artista. Ele se esforçara por despertar sentimentos mais matizados, ainda sem nome. O próprio artista vive uma existência completa, relativamente requintada, e a obra, nascida de seu cérebro, provocara no espectador capaz de experimenta-las, emoções mais delicadas, que nossa linguagem é incapaz de exprimir.”

Wassily Kandinsky



Como Expressado em Friedrich Hölderlin

“Ai de mim, perambula na noite e habita como que no inferno, sem o divino, a nossa geração”

A canção de Hyperion


Oh santos génios! Vós caminhais,
lá por cima, em luz, sobre terra suave.
Brilhantes deuses etéreos
Tocam-vos levemente,
Qual os dedos da artista
nas cordas santas

Sem destino, como a criança
Adormecida, os anjos respiram;
Castamente guardado
Em discretos botões,
O espírito floresce-lhes,
Eterno,
E os santos olhos
Vêem em silenciosa
E eterna claridade.

Nós, porém, fomos condenados a errar,
Sem descanso, p’la terra fora.
Ao acaso, de uma
Hora para a outra,
Os homens sofredores
Somem-se e caiem,
Como a água atirada de
Recife para recife,
Ano após ano, na incerteza.




O Poema Conciso

Porque és tão curto? Já não amas, como noutros
Tempos, o cântico? Nesse tempo, ainda jovem,
Quando em dias de esperança cantavas,
Nunca encontravas o fim.

Como a minha sorte, assim é minha canção. Queres-te
banhar, feliz, no pôr do Sol? Já passou! E a
Terra é fria e o pássaro da noite sibila,
Incómodo, perante os teus olhos.





II




“(... ) compreender a negatividade na arte moderna como a expressão mais potente da experiência espiritual a que dá lugar a ausência da experiência religiosa.”
Vega

“o sagrado é uma parte da estrutura da consciência e não um estádio na evolução da consciência. Ou seja, não houve uma época em que as coisas eram mais espirituais do que hoje. (...) Vivemos numa época que não o reflete ou encoraja ou foca da maneira que outras culturas o fizeram no passado onde a religião era dominante. Mas não significa que não esteja lá.”
Mircea Eliade


"O silenciar dos nossos sentidos físicos conduz muito mais facilmente à experiência das coisas espirituais; da mesma maneira, o silenciar de nossas faculdades espirituais conduz a um conhecimento experimental de Deus, tanto quanto este seja possível, através da graça, na vida presente."
A Nuvem do Não-Saber, Anónimo




O Dialecto da Beleza:

Balthazar dizia que a morte era a morte tanto no Mundo como em Deus, no propósito de uma vida plena. Para Balthazar, a Beleza é o todo no fragmento, pensamento interno à lógica da presença da ausência e da ausência da presença.

Para Tomás de Aquino, a beleza brota do jogo entre o efémero, mostrando-se um momento de vida que caminha em direcção à perfeição, e assim de encontro a Deus e à redenção de tudo o que existe. É ao aproximarmo-nos do nada que o tempo se preenche de maravilhas, e quando o mal passa o artista vem mais tarde a encontrar formas belas para o caos e a desordem que o caracterizaram: a beleza mostra-se vitoriosa através do fim.

Para Dostoevsky, é importante desmascarar a beleza do inferno, da degradação, a beleza regozija-se no desespero e o nada revela-se. O niilismo e a redenção unem-se no objectivo da liberdade. O homem é um ser trágico e eterno, entre este e o outro mundo, e a sua única possibilidade de felicidade é a renúncia à liberdade.

O Deus de Raskolnikov mergulhou com o homem no Abismo, e o homem pode, perante a luz negra do niilismo, entregar-se à transparência do amor, ou à inércia.



Exemplificado em Herberto Helder


O Amor em Vista

(...)

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.

Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Herberto Helder

domingo, 16 de agosto de 2009

Luz Serpenteante




Liza Minelli sintetizada em Siouxie Sioux para estética de final de milénio




Literatura Obscura Medieval do Século XVIII (E a Escola Inglesa)

O gótico começa com a desilusão para com as ideias racionalistas, a tribo sentimentalista, de sonhadores que estão contra o materialismo e a favor do iluminismo (embora o desafiasse pela exposição sem pudor do caos) - a estudar também o estilo barroco. Surge em oposição à filosofia neoclássica, e buscava os temas mais reprimidos da psique humana, os seus medos, aproximando o simbólico e o obscuro, o verificavel e o sobrenatural. Politicamente, repare-se no significado do seguinte: padres malignos em catedrais misteriosas, e ariostocratas maléficos em castelos abandonados.

A arquitectura dos espaços dos homens é claustrofóbica, e a natureza exalta o terror pela vastidão.


Século XVIII:
O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole
The Old English Baron, a gothic story (1777)
The Recess; or, A Tale of Other Times (1783-1785)
Charlotte Smith, autora de Emmeline
The Orphan of the Castle (1788)
The Castle of Wolfenbach (1793)
The Mysterious Warning (1796)
Clermont (1798)
The Orphan of the Rhine(1798)
Zofloya, or, The Moor: A Romance of the Fifteenth Century (1806)
Vathek (1786)
Anne Ward Radcliffe (1764-1823)
The Castles of Athlin and Dunbayne (1789)
A Sicilian Romance (1790)
The Romance of the Forest (1791)
The Mysteries of Udolpho (1794)
The Italian, or The Confessional of the Black Penitents (1797)
Northanger Abbey (1818), Jane Austen
The Monk (1796)
Les Crimes D'Amour (1800)
The Pursuits of Literature (1796), de T. J. Matthias
Melmoth, the wanderer (1820)
Frankenstein, or The Modern Prometheus (1820)
The Strange Case of Dr. Jeckill and Mr. Hyde (1886)
The Island of Dr. Moreau (1896), de H. G. Wells
Dracula (1897) de Bram Stoker
Carmilla (1872)
The Picture of Dorian Gray (1891) escrito por Oscar Wilde
Edith Birkhead (1921) The Tale of Terror.
Montague Summers (1938) Gothic Quest
Devendra Varma (1957) The Gothic Flame
Victor Sage (1985) Horror Fiction in the Protestant Tradition
David Punter (1996) The Literature of Terror
Maggie Kilgour (1995)The Rise of the Gothic Novel, Routledge
Fred Botting (1996) Gothic, Routledge




O Romantismo do Século XIX (E a Escola Francesa)

O Romantismo do século XIX (eu sei, a importancia alemã), que, de intelectualidade rebelde, buscava o nacionalismo, o individualismo, o drama humano, condecorado de lirismo e de subjectividade. Aqui busca-se o exótico, o selvagem, a liberdade... O romantico idealizava uma sociedade à imagem da sua alma, exaltava a mulher, e procurava escapar à realidade.

A natureza é utilizada neste movimento de forma a exaltar os sentimentos e os paraísos artificiais florescem.

Continuando em França, o impressionismo, em que o que o homem vê não são os objectos mas a luz (preste-se atenção a isto), passando então a pintar não em estúdio mas ao ar livre, e o expressionismo, mais preocupado com a interiorização da arte do que com a sua exteriorização, dando-se importância à mensagem oculta de cada obra. Nos anos 20 de Paris o surrealismo, centrado no psicológico, liberto da lógica e da razão, para lá do quotidiano e boca aberta do inconsciente. Aqui a rejeição a valores estáticos como pátria, família, religião, trabalho e honra, realçando e louvando um novo elemento, o humor. Começa a escrita automática e um ingrediente comunista, a arte é dos homens comuns, não dos génios.

No século XX o modernismo, que clama que as formas tradicionais de arte foram ultrapassadas, golpe desferido pelos impressionistas e simbolistas (eu sei, a importância alemã), e por Nietzsche (que matou Deus) depois Freud (que nos diz que as impressões do exterior advêem dos impulsos interiores e que assim o exterior não é absoluto e por si mesmo) e Jung com o seu inconsciente e o seu inconsciente colectivo. A ideia era que, em vez de re-aproveitar as técnicas antes conseguidas, se começasse inteiramente de novo (em paralelo com o advento da teoria da relatividade na fisica, por exemplo, e portanto num panorama em que a realidade perdera a solidez).

Continuando com os franceses, explore-se a cultura de cabaret com o seu teatro, as suas comédias, canções e danças, as mulheres e a volúpia, o criticismo e a liberdade de expressão.



Do Romantismo:
Francisco Goya
Bocage
Sturm und Drang
Arte moderna de Giulio Carlo Argan
Eugène Delacroix
William Turner
William Blake
Edward Young
James Thomson
William Cowper
Robert Burns
Byron
Shelley
Keats
Goethe
Schiller
Herder
Friedrich Schlegel
Novalis
Friedrich Hölderlin
Stendhal
Victor Hugo
Musset
Leopardi
Manzoni
Almeida Garrett
Alexandre Herculano
José Espronceda
José Zorilla
José de Alencar
Walter Scott
Balzac
Beethoven
Chopin
Tchaikovsky
Felix Mendelssohn
Liszt
Grieg
Brahms
Verdi
Wagner
Pucinni
António Feliciano de Castilho
Camilo Castelo Branco
Soares de Passos
Júlio Dinis
João de Deus
Gonçalves de Magalhães
Gonçalves Dias
Álvares de Azevedo
Casimiro de Abreu
Fagundes Varela
Junqueira Freire
Castro Alves



Modernismo:
Macunaíma
Klaxon
Antropofagia
Friedrich Nietzsche
Søren Kierkegaard
Sigmund Freud
Carl Jung
Salon des rejects
Manet
Stéphane Mallarmé
Torre Eiffel
industrialização
Gustav Mahler
Gustave Flaubert
Arnold Schoenberg
Kandinsky
Der blaue Reiter
cubismo
Picasso
Georges Braque
Joseph Conrad
Virginia Woolf
James Joyce
T.S. Eliot
Erza Pound
Wallace Stevens
Guillaume Apollinaire
Joseph Conrad
Marcel Proust
Gertrude Stein
Wyndham Lewis
Marianne Moore
William Carlos Williams
Franz Kafka
Igor Stravinsky
Matisse
Mondrian
Le Corbusier
Mies van der Rohe
Walter Gropius
Frank Lloyd Wright
John Maynard Keynes


Expressionismo:
Mendelsohn
Die Brücke
Van Gogh
Edvard Munch
art noveau
Paul Klee
Henri Matisse
Paul Gauguin
Ernst Ludwig Kirchner
Emil Nolde
Bauhaus
advento da abstração
Vassíli Kandínski
August Macke
Diego Rivera
Jackson Pollock


Impressionismo:
Impressão, nascer do sol (1872)
Claude Monet
A luz e o movimento
Edgar Degas
Renoir
Edouard Manet
Washington Maguetas


Surrealismo:
Max Ernst
René Magritte
Salvador Dalí
André Breton
Luis Buñuel
Guillaume Apollinaire
Paul Éluard
Louis Aragon
Benjamin Péret
Jacques Prévert
Alberto Giacometti
Antonin Artaud
Juan Miró


Cabaret:
Josephine Baker
Madame Satã
Le Chat Noir
Moulin Rouge
La Goulue
Yvette Guilbert
Jane Avril
Mistinguett
Le Pétomane
Henri de Toulouse-Lautrec
Folies-Bergère
Charles Aznavour
Jacques Brel
Serge Gainsbourg
Edith Piaf
The Swingle Singers
Buntes Theater
Werner Finck - Katakombe
Karl Valentin - Wien-München,
Claire Waldoff
Kurt Tucholsky
Erich Kästner
Klaus Mann
Marlene Dietrich
Karl Farkas
Werner Finck
Dora Gerson
Dieter Hildebrandt
Erich Kästner
Ute Lemper
Klaus Nomi
Dieter Nuhr
Volker Pispers
Alf Poier
Gerhard Polt
Jura Soyfer
Kurt Tucholsky
Karl Valentin
Karin Berri
Tineke Schouten
Bert Visscher
Najib Amhali
Brigitte Kaandorp
Wim de Bie
Louis Davids
Sanne Wallis de Vries
Freek de Jonge
Herman Finkers
Javier Guzman
Raoul Heertje
Youp van 't Hek
Toon Hermans
Wim Kan
Kees van Kooten
Theo Maassen
Wim Sonneveld
Hans Teeuwen
Jochem Myjer
Hans Liberg
Claudia de Breij
Karen Akers
Joséphine Baker
Kaye Ballard
Laurie Beechman
Ann Hampton Callaway
Liz Callaway
Peter Cincotti
Rosemary Clooney
Bob Dorough
Michael Feinstein
Ella Fitzgerald
Murray Grand
Hildegarde
Billie Holiday
Lena Horne
Eartha Kitt
Nancy LaMott
Peggy Lee
Jay Leonhart
Dorothy Loudon
Amanda McBroom
Susannah McCorkle
Carmen McRae
Bette Midler
Liza Minnelli
Mark Murphy
John Pizzarelli
Faith Prince
Kenny Rankin
Annie Ross
Bobby Short
Nina Simone
Frank Sinatra
Jeri Southern
Barbra Streisand
Elaine Stritch
Julie Wilson
The Butterfly Club
Le Lido
Lapin Agile
Cabaret Voltaire
Tropicana
The Blue Angel
Can Can



Os Beatniks (e a Escola Americana)

Agora na América (mas ainda baseado na boémia francesa), os Beatniks, 1950-1960, um grupo de escritores, cujas características se provavam pela obscenidade alargando as permissões da censura. Boémios hedonistas que celebravam a espontaneadade criativa, eram viscerais nas suas palavras e no experimento da combinação das suas palavras, procurando através disto um entendimento espiritual aprofundado.


Geração Beat:
Howl (1956) de Allen Ginsberg
Naked Lunch (1959) de William S. Burroughs
On the road (1957) de Jack Kerouac
Neal Cassady

Ecos da Geração Beat:
Hippies
Punks




Os Oitenta e os Noventa

Nos oitenta, começa a aparecer a música, que continua nos 90 e então se difunde um pouco nos derivados do Metal: Gothic Metal, Doom Metal, Metal Sinfonico e Dark Ambient.


Anos oitenta e noventa:
Joy Division
Bauhaus
The Sisters of Mercy
Siouxsie and The Banshees
Alien Sex Fiend
London After Midnight
Faith and Muse
Clan of Xymox
e.t.c.





Cinema:

Faltou falar das influências no cinema, embora muito esteja incluído no expressionismo:

Temos Georges Melies, o ilusionista, que começou a filmar em 1896:

The Devil's Castle

The Lady Vanishes

L'Éclipse du soleil en pleine lune

The Magic Lantern

Infernal Cakewalk

Le Monstre

La Cornue Infernale

Le Chauldron Infernale

Evocation Spirite

Le Voyage Dans La Lune

Les Cartes Vivants




Em 1910, a primeira versão em filme de Frankenstein.

Robert Winer com o O Gabinete do Dr.Caligári.

Fritz Land com o Vampiro de Dusseldrof.

O Der Golem, o Estudante de Praga, e o Alraune (ao estilo de Frankenstein, a menina é uma experiência) de Paul Weneger.

O Corcunda de Notre Damme.

Dr. Jekyll and Mr. Hyde.

The Hound of Baskervilles.

O Nosferatu de Murnau.

O Dracula de Bram Stoker.

O Dracula de Bela Lugosi, The Devil Bat, White Zombie, The Wolfman.

Phantom of the Opera.

The Blackbird.

O London After Midnight, que infuenciou a banda. The Magician.

The Mummy.

I Walked With a Zombie.

Cat People.

Vampyr.

Freaks.

Entrevista com o Vampiro.


As listas não estão, obviamente, completas.


A subcultura, culta, apenas dispersa, não unida, sem a devida capacidade para causar uma mudança social significativa, ainda que, cada vez mais, conquistando espaço. Aqui os eruditos encantados, os cientistas feiticeiros, os pensadores do apocalipse, suficientemente atentos para clamar: uma alma sensível encontra beleza mesmo no terror dos destroços, e da ruína da sua época e da sua civilização ela ergue o intelecto e a luz como uma chama impossível de extinguir.




Curiosidades
1:
Lembrem-se que Streisand começou nos cabarés. Aprendeu o estado de "diva" com as drag queens e tinha um público vasto de fãs homosexuais que frequentavam os locais de cabaré.

O Frank Sinatra e o seu jazz não são propriamente música de cabaré, no entanto o cabaré era uma temática que expunha, e movia-se dentro do meio, actuando também em cabarés. Muita da música de cabaré pode até ser ouvida em clubes de jazz, a diferença sendo que o cantor de cabaré se foca no teatro musical e no caracter intimista (e nisto o Sinatra podia ser um expert).

A Garland fazia cabaré, entre as coisas pelas quais é famosa.


2:
Tolouse-Lautrec

Frequentador assíduo do Moulin Rouge e outros cabarés, o pequeno nobre acaba se acomodando muito bem naquele ambiente tão estranho que seus pais nunca aceitaram em ter o filho. O tema principal das pinturas de Toulouse-Lautrec era a vida boémia parisiense, que ele representava através de um desenho que lembra a espontaneidade do desenho satírico de Honoré Daumier, e uma composição dinâmica que poderia ter sido influenciada pela fotografia e as gravuras japonesas, dois fatores de grande importância cultural no fim do século XIX.

Era atraído por Montmartre, uma área de Paris famosa pela boemia e por ser antro de artistas, escritores, filósofos. Escondido no coração de Montmartre estava o jardim de Pere Foret onde Toulouse-Lautrec pintou uma série de óleos sobre tela ao ar livre de Carmen Gaudin (a modelo ruiva que aparece no quadro "A Lavadeira" de 1888). Quando o cabaré Moulin Rouge abriu as portas ali perto, Toulouse-Lautrec foi contratado para fazer cartazes. Posteriormente ele passou a ter assento cativo no cabaré, onde suas pinturas eram expostas. Nos muitos conhecidos trabalhos que ele fez para o Moulin Rouge e outras casas noturnas parisienses estão retratadas a cantora Yvette Guilbert, a dançarina Louise Weber, mais conhecida como a louca e cativante La Goulue("A Gulosa"), a qual criou o cancan francês, e também a mais discreta dançarina Jane Avril.


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3:
O Anjo Azul

O Anjo Azul mergulha nas entranhas da degradação e da decadência do ser humano sem dó nem piedade. A atmosfera turva e cativante é bastante peculiar para um cineasta bebedor do expressionismo alemão, e é nesse clima sombrio e pesado que Sternberg constrói a sua história, a partir do belíssimo argumento de Robert Liebmann. Mas, sem dúvida, estamos diante de um filme onde a categoria do seu director é o grande destaque.

(...)

A rigor, percebemos que, com o decorrer da metragem, Sternberg homenageia Murnau e seu Fausto - alguém pode encontrar um pouco do humor efêmero de Aurora. Temos, no entanto, um filme com personalidade, que fala por si, que exalta alegrias, emoções e tristezas. Há, também, alusões eróticas impensáveis para a época (Marlene Dietrich, em optimo desempenho, dança e canta com poucas peças de roupa sob seu corpo perfeito).


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4:
Vaudeville


Vaudeville foi um gênero de entretenimento de variedades predominante nos Estados Unidos e Canadá do início dos anos 1880 ao início dos anos 1930. Desenvolvendo-se a partir de muitas fontes, incluindo salas de concerto, apresentações de cantores populares, "circos de horror", museus baratos e literatura burlesca, o vaudeville tornou-se um dos mais populares tipos de empreendimento dos Estados Unidos. A cada anoitecer, uma série de números eram levados ao palco, sem nenhum relacionamento dire(c)to entre eles. Entre outros, músicos (tanto clássicos quanto populares), dançarina(o)s, comediantes, animais treinados, mágicos, imitadores de ambos os sexos, acrobatas, peças em um único a(c)to ou cenas de peças, atletas, palestras dadas por celebridades, cantores de rua e filmetes.



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Sugestão do Dia:



sábado, 8 de agosto de 2009

Promessas 2 *

Orpheus, Jean Delville, 1893




Em ti vislumbro toda a vontade de viver e toda a dor de não se crescer à medida da alma. Depois pela tua questão cheguei a ti, embora tu não a mim. Interrogavas-te sobre a minha religião, sem mesmo me haveres ainda conhecido, quando conhecer-me é morrer.

Minha é a religião que rejeita todos os credos, e aceita somente as coisas, providas das suas maldições e bênçãos, assim como as sentimos dentro de nós. Se para vós, a religião se descreve no conjunto de crenças que recaem no sobrenatural, assim como nos códigos morais que permitem atingir o sagrado, para nós, que vivemos nada mais nada menos como o sobrenatural e o sagrado englobando, não obstante, o caído, o que nos resta adorar além da existência das coisas conforme passamos por elas e elas nos atravessam na invisibilidade dos espelhos?

Porque nós somos dentro das coisas, e porque ousamos rasgar todas as peles, não existe em nós a fé por elas, apenas a fé interna às mesmas, contida e saboreada no laboratório dos sentidos.

Porque somos eterna e amplamente sós, não serão descobertos códigos morais ou sociais que nos conduzam. Não somos ateus, pois não negamos os deuses nos homens, não somos agnósticos pois a dúvida, em nós, não impera, e o deísmo não será uma bandeira na constatação de que a razão, deixada a si mesma, não vale o mais pequeno sopro. Em nós, a virtude e a justiça são consequências da liberdade, em vós, da opressão. Qualquer lugar que pise amaldiçoo e sacralizo, então, se procuras um altar no qual adorar aquilo que começas agora a visualizar no movimento das minhas palavras, busca o espelho, nesse mesmo momento em que, ali, não encontres o teu reflexo.


(...)

Uma diferença, todavia, vem estabelecer-se na medida em que, da amálgama revolta dos sonhos da carne e do espírito da qual provem o mundo, extraímos o fluido luminoso e a treva numa medida perfeitamente regulada, assim, no mundo do espírito aquilo que é fogo virá influenciar a temperatura do nosso corpo no sentido dos graus mais baixos, enquanto que aquilo que é gelo o aquecerá. Devido a esta sensibilidade acrescida e ao manejo aperfeiçoado do mundo oculto, sentimos frio e calor, mas não sofremos de frio, nem de calor.


(...)


A eternidade é a condenação do futuro; é, contrariamente ao que pavoneiam, não o rumo certo da glória daquele por todos amado, mas a errancia.

(...)


Diana, hoje observo-te a brincar, como uma pequena chama ao luar, entre becos e sombras e mascaras de lobos, com um sorriso de criança e a inocência cruel das rosas, e pareces pequena e grande em simultâneo, mas eu sei melhor, sei que és pó. A morte, tudo iguala minha pequena. E embora a tua brincadeira seja mais uma corrida até ao final dos finais, a consciência da imortalidade em mim brinca em passos de dança com o precipício da inconsciência em ti. Por isso mesmo permito-te conhecer alguns aspectos da nossa existência ou, deveria talvez proclamar, inexistência. A minha esperança sopra também nos ventos de que o venhas a espalhar às mentes despreparadas e despedaçadas dos teus semelhantes, pois a anarquia e o caos é o deleite e o vício mortal da eternidade.


(...)



O Vampiro organiza-se em sociedade segundo o modelo anarquista e, simultâneamente, aristocrático, em que o seu sangue é tido como sangue azul e dele é requerida uma certa nobreza dotada de uma etiqueta própria, porém natural, provinda das entranhas, então refinada ao máximo potencial da educação e do conhecimento. Não existe, pois, nenhuma hierarquia e, se alguma pirâmide de estatuto prevalecesse, seria aquela do poder da expressão do semblante de cada membro, sendo que os estados de espírito são, naturalmente, mais ou menos flexíveis.

Todo o Vampiro existe a um nível de igualdade simétrica e inquebrável, sendo porém a individualidade o princípio máximo que regularia esta associação, e por isso, cabe a cada associado trabalhar unicamente aquilo que espelha no mundo a sua particularidade, a sua inspiração e verdade; e assim, o lucro é visto em termos de realização, mais do que pelo cobre, isto é, a moeda de latão.

Esta, seria igualmente a vossa ordem natural, embora uma diferença interna resida em que no homem mortal, a individualidade se caracterize por se ancorar no corpo, dai o intercâmbio do sangue provocar muitas vezes a morte, sendo a nível da alma que o homem mais se mistura e se une com as coisas de forma saudável. Por sua vez, a individualidade do vampiro existe na sua alma, da qual o sangue é a interacção, o seu erotismo, a sua comunhão, compartilha e a sua fertilidade. Se um vampiro arrisca a sua alma, que é a sua maldição, coloca também a sua existência numa situação frágil e possivelmente fatal.



Mesh-ki-ang-gasher

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

É talvez o último dia da minha vida.


Nezahualcoyotl, O Rei Poeta




É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro



It is maybe the last day of my life.
I saluted the Sun, raising my right hand,
But I did not salute him, saying to him goodbye,
I expressed my pleasure to see him instead: nothing else.

Alberto Caeiro
* Traduzido por André Consciência

sábado, 1 de agosto de 2009

Promessas 1 *

HR Giger



Cara Filosofa dos Abismos, folgo em encontrar-te sempre curiosa, também um dia esta ansiedade de descobrir te fará morrer as sete felinas mortes, e nesse dia serás uma de nós. Por agora, satisfaço a tua indulgência na fornalha fraca de palavras poucas, para que talvez um dia possas vir a perceber muito em tudo o que é pouco.

(...)

Esforça-te para conhecer cada um destes animais de cor em ti mesma, e alimentai-vos primeiramente da sua essência. Só mais tarde voltarás o teu dom para as estrelas.

(...)

O prazer é, indecorosa e delicada criatura, uma dilacerante luz guia, uma voz que queima e que abre caminho: não distingue, conhece; em si coabitam todas as vidas livres aprisionadas na experiência, e o seu nome é legião.


(...)

A deficiência de cada Vampiro é assim a particularidade, ou particularidades, do mesmo, sendo esta a sua derradeira e inquestionável perfeição.


(...)

Sim, aqui tens a verdade, não simpatizamos com o Sol da mesma forma que vós, porque vedes nele um potencial salvador e o dador da vida. Nós, fitamos-lo como um opressor e agoiro de cegueira. Contempla que o Sol caminha, tranquilo, pela noite eterna do cosmo, e quando se impõe ali no vosso céu diurno tapa toda a terra num túmulo de falsidade, já distorcido. Apreciamos a noite porque é cada um de nós um Astro Ardente, um Sol, uma Estrela, cada um de nós é o Sol quando o mesmo caminha na noite, e fazemos-lo na Terra. Só nos sonhos vossos ganhamos forma, assim como nas sombras da rua, e nos fantasmas que as mãos ainda desenham e abraçam. Somos os vossos desejos, a vossa dança com a morte, e o vosso trago de um vinho perpétuo. Somos o orvalho quando a donzela do que ainda é puro em vós, se precipita uma vez mais na gravidade da ilusão, e a borboleta se reduz a queimadura no Archote de Lúcifer.


(...)


O sangue dos seres vivos é pois, para nós, como o incenso, gerado da resina das árvores, se afigura para os anjos, ou mesmo como a prece de um coração puro e silencioso o é para Deus. O sangue é o único cântico e o hino único capaz de criar um ambiente sagrado em nosso redor, a partir do qual podemos penetrar as hostes da mortalidade e dos vivos.

Uma vez adquirido pelas nossas formas, este sangue é pois despido das suas limitações tanto como da sua castração, tornando-se numa essência pura ardente, com a qual brindamos, novamente, o mundo cíclico e sistemático dos homens comuns, que, sem as características inerentes à nossa imortalidade, se extinguiria facilmente, como uma vela a descoberto face ao gelado sopro do inferno.




No fogo e na bruma.




Mesh-ki-ang-gasher
* Ha uns anos (julgo), diverti-me a fazer correspondência, em papel, sob este nome. Hoje estava a reler as copias das cartas e hão de se seguir mais dois posts da autoria de Mesh-ki-ang-gasher, sendo que achei peculiar o meu bizarro passa-tempo (do qual aliás hoje já não me recordava).