sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ao erguer um pouco o seu archote




O peixe senta-se no cadeirão
E o amor cambaleia ébrio
O caminho longo do rio
Beija as pedras.

Despejo o conteúdo do meu caldeirão
E ouve-se um berro no meio da ventania:
Contra os meus quadris
Recua o teu pé esquerdo.


André Consciência

A Lança




Sento-me, no colchão de palha,
À espera que alguém apareça,
O cabelo uma massa sibilante
A fera lamuria-se e principia
Um feitiço, enquanto num letreiro lê-se
«Sente o calor do sangue na tua porta»


André Consciência

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Uma Imagem Granulada


fotógrafa: Soraya Moon



Sobre o tórrido amarelo das casinhas e vielas debaixo
Do miradouro planando a Capital, uma criança de calcanhares
Em fogo atravessava os ossos pelo laminal frio do vento
No Verão.

De resto, eu apreciaria escrever
Sobre alguém morto, e que não tivesse de responder por nada
E a pequena está morta
Mas quando a noite se puser
Na hora do amanhecer, pela décima terceira vez,
Há-de o homem-pássaro dar-lhe uma bolacha e eu
Serei sempre partido ao meio e mastigado, com tudo por
Responder.


André Consciência