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"A Finisterra, o buraco do inferno" todos me dizem.
Eu digo que a minha terra, a nossa terra, tem uma alma, e não me refiro apenas ao povo ou às tradições do povo. A terra que pisamos, essa mesma. É dela que falo. A terra que vivemos.
Eles dizem que a minha terra gosta de todos os chulos e de todas as putas. Dizem que o calor queima e que o frio corta e que os contrastes arranham, que quando se encosta o ouvido à areia não se pode ouvir nada, que o amor não está lá. Dizem "A tua finisterra é o inferno" e eu sorrio, a lenda diz que todas as sombras, no seu pico, acabam aqui. Dizem "a tua finisterra é o inferno" e partem, partem todos.
Eu digo que os chulos e as prostitutas não me interessam, que não sou português mas lusitano, que uma planta não é responsável pelo bicho que a consome. Pergunto-me porque são tão ingratos, que não reconhecem a mãe da sua infância, da sua adolescência, da sua vida toda. Que há sangue meu derramado aqui, que há sangue dos meus que bebi aqui, nesta terra de cálice.
Dizem:
"Mãe é quem nos ama", como se não tivessem conhecido o amor. Como seres que nada amam.
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