Eu queria ficar parado, porque naquele dia havia a sensação nostálgica a noites de natal, com presenças quase perto, respiradas e pulsadas no coração. Queria ficar parado porque ali todos aqueles que um homem solitário ainda tem estão mais vivos que nunca num abraço. E, acima de tudo, porque queria saber então a última palavra no toque. Se a ultima palavra do sopro gelado da morte podia ser ainda: eu. Há quem diga que vivemos como ratos dentro de uma roda viciante e eu sei não obstante que a vida é uma linha vertical que se põe a meu lado e brinca com um boneco que não sou eu mas que, sendo observado por mim, eu sou.
E fiquei parado enquanto desfrutava daqueles raros momentos com o meu pai e o meu irmão, como antigamente, enquanto até esse momento desaparecia. E deixava só o fumo do cigarro queimado dançar com o ar impregnado de sonhos, os carros eram lentos nas luzes nocturnas, os olhares das pessoas solitários em todas as esquinas, e por vezes uma pessoa passava entre um par de pessoas obedecendo a uma qualquer lei graciosa da violação da proximidade.
E eu esperava que ela me encontrasse, se ficasse muito parado, não tinha a certeza se estava um passo atrás se um passo a frente, mas sabia que nos seguíamos como amantes.
Os lábios das pessoas estavam cerrados e grotescos quando se abriam porque estavam cerrados. A luz do tráfego desvanecia-se entre momento e momento para abraçar outro momento à procura sempre daquela mãe e ventre de todos os momentos; como uma criatura de filamentos telepáticos que nos alberga. E eu sei que estás por ai, quero saber a ultima palavra. Se a ultima palavra é abraço e traição, e se é um nome que não encaixa, um nome que é maior que os nomes: eu. E depois, na ultima palavra do eu: tu.
Sei que estás por ai.
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