quarta-feira, 4 de março de 2009

Pain


PAIN ARRIVES FROM WHERE WE LEAST EXPECT IT
O mocho, porque o mocho era quando nós estávamos.
Existem os dois vultos que dançam em redor da sua auréola conjunta, uma coroa de espinhos já sem rosa.
A cruz da nossa remissão é uma dor sem sentido, são as mentiras com que criaram o homem, com que o nosso amor se embriagou como se fosse amor, quando o amor já não é do tempo dos homens mas de outra qualquer espécie mais nobre que conhecemos, apenas, na utopia.
No braço direito da cruz está tudo o que é estrangeiro a tudo, estou eu, em embrião para sempre.
No braço esquerdo da cruz aquele espantalho que se disse anjo e que afugentou tudo o que podiam ser anjos. Aos seus pés aninho-me, chamo-lhe Pai, peço-lhe que me proteja, que os pardais pousem sobre ele e cantem para mim, ele canta contra o vento e devolve-me a solidão onde julgo saber os sons, as felicidades, e todas essas coisas que os homens sem tecto sonham e fingem com muita força ser verdade.
Tudo o que tu eras, minha alma, não existe, nem existiu.
De volta ao fundo do cérebro, os répteis não conhecem nomes, são monumentos de antiguidade contra a própria civilização, os sonhos dos homens são os dejectos soltos das suas escamas, tu não és, por favor, pára, tu não és, senão uma rocha pela qual passei, onde descansei. O Sol que bate nas rochas é eterno e omnipresente. Tu és um capricho do tempo. No olhar do réptil tudo o resto acaba, porque tudo é verdadeiro.
Acaba, acaba, acaba.
Cabra cega.
Acaba. E devora-te no teu canto lésbico. O Sol não é para nós.
Eu, Sou, Quieto, O Escuro, o Sol, Acabo, Aqui, Agora.
Não tens nome, e possa eu, Senhor, nunca mais ser enganado. Deixa a tua morte na morte. Só eu, Sol, Vivo no Cadáver. Afasta de mim as mulheres e os homens, e deixa-me ver as coisas que só tu sabes nos grãos desérticos.

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