Passaram algumas luas desde que não sei dizer se estou de pé, ou sentado, nem mesmo se se apressam os meus passos, se corro. Estou parado, ainda que gire sobre mim mesmo com a agitação nocturna das folhas sombreadas pela ventania e dos ratos que percorrem as veias do castelo; que a minha cabeça embata na parede, repetidamente, para cheirar o sangue e calar as minhas meditações. São as questões, as inquisições, as perguntas de todos, de tantos, a olharem para mim e a procurarem respostas, parados, fixos. A tocarem-me. Todos queriam saber de mim, de mim porque eu era aquele que nunca indagava. Depois, quando todos partiam e os ultimos ecos dos ultimos passos abandonavam o pátio, eu escutava só as pedras da parede e o vento entre as fendas, e o ruido seco da palha e até a melodia da lua, se brilhava com força suficiente. A Lua tinha o som dos lagos parados. Os cisnes voavam de noite, e escutava os sussurros das suas asas. Nessas noites, não dormia, porque também não sentia necessidade de acordar...
Tudo se repetia, o estrondo mudo do sol, a palavra do calor, depois os olhares, os passos, os lábios movidos e as linguas revolvidas (as humidades cintilantes), os gestos fernéticos que não ilustravam nada senão um nervosismo continuo e desconexo. Os ultimos ecos dos ultimos passos no pátio, que era o último pátio do mundo. O pôr do sol (cujo ruido se assemelha a um rio, talvez mais próximo de um riacho), e então a noite e as suas criaturas, a maior delas, como um predador sublime, sendo o próprio silêncio. Um dia, não veio ninguém. Não houve passos nos corredores nem vozes no pátio, não houve indagações nem olhares intrometidos. A primeira coisa que mudou, após esse sórdido acontecimento, foi que o ruido do sol passou sempre a ser o ruido do sol-pôr, principalmente quando nascia. A luz passou a ser inquietante, como multidões sem fim, multidões de asas de cisne em meu redor, num bater de asas histérico e absurdo. Tapei todas as janelas com tábuas, e as portas com panos negros, de veludo negro. As velas perdi-as pelo escuro, no frio solo. Esfarelei-as, ao encontra-las, entre as unhas por cortar e a robutez das mãos sujas. Depois percebi, quando, nos ruidos nocturnos, e desses, primeiro nos cisnes, escutava os sussurros de gente, primeiro difusos e dificeis de perceber, depois indagações várias sobre tudo, a fazer parecer o mundo ser tantas coisas em vez de uma só coisa.
Os aldeões dizem que eu sou acabrunhado por um demónio a que apelidam de Legião. Trazem-me chá quente, que me acalme a febre, e sacos de água quente para me aquecer, vinho para beber e ração de cão para comer. Mas eu não os vejo, e desconfio que caminho já como os cães. Não consigo ter a certeza se me movo verticalmente ou horizontalmente. Não sei, mesmo, se ainda urino ou obro, e se o faço, onde e de que forma, parece-me até que como gente, ou que fornico os mastins esfomeados, e uma única certeza me resta: ser a Porta e a Voz do Mundo.
Tudo se repetia, o estrondo mudo do sol, a palavra do calor, depois os olhares, os passos, os lábios movidos e as linguas revolvidas (as humidades cintilantes), os gestos fernéticos que não ilustravam nada senão um nervosismo continuo e desconexo. Os ultimos ecos dos ultimos passos no pátio, que era o último pátio do mundo. O pôr do sol (cujo ruido se assemelha a um rio, talvez mais próximo de um riacho), e então a noite e as suas criaturas, a maior delas, como um predador sublime, sendo o próprio silêncio. Um dia, não veio ninguém. Não houve passos nos corredores nem vozes no pátio, não houve indagações nem olhares intrometidos. A primeira coisa que mudou, após esse sórdido acontecimento, foi que o ruido do sol passou sempre a ser o ruido do sol-pôr, principalmente quando nascia. A luz passou a ser inquietante, como multidões sem fim, multidões de asas de cisne em meu redor, num bater de asas histérico e absurdo. Tapei todas as janelas com tábuas, e as portas com panos negros, de veludo negro. As velas perdi-as pelo escuro, no frio solo. Esfarelei-as, ao encontra-las, entre as unhas por cortar e a robutez das mãos sujas. Depois percebi, quando, nos ruidos nocturnos, e desses, primeiro nos cisnes, escutava os sussurros de gente, primeiro difusos e dificeis de perceber, depois indagações várias sobre tudo, a fazer parecer o mundo ser tantas coisas em vez de uma só coisa.
Os aldeões dizem que eu sou acabrunhado por um demónio a que apelidam de Legião. Trazem-me chá quente, que me acalme a febre, e sacos de água quente para me aquecer, vinho para beber e ração de cão para comer. Mas eu não os vejo, e desconfio que caminho já como os cães. Não consigo ter a certeza se me movo verticalmente ou horizontalmente. Não sei, mesmo, se ainda urino ou obro, e se o faço, onde e de que forma, parece-me até que como gente, ou que fornico os mastins esfomeados, e uma única certeza me resta: ser a Porta e a Voz do Mundo.
Tal como tinha prometido, vim ler-te. Mas confesso que não esperava encontrar um "cartão de boas-vindas" tão poderoso e perturbador ao mesmo tempo.
ResponderEliminarJá li e reli estas palavras, deixei os meus olhos pousarem numas quantas expressões daquelas que marcam a alma a ferros e, mesmo assim, não encontrei as palavras certas para te deixar.
Por isso deixo-te apenas uma certeza; a de que voltarei porque, tudo o que me perturba, também me atrai.
Um beijo*
PS...depois de ler isto tu é que vais achar que eu sou perturbada! -E não estarás muito longe da verdade- LOL
Já agora...
ResponderEliminar...que a minha cabeça embata na parede, repetidamente, para cheirar o sangue e calar as minhas meditações.
Isto lembrou-me uma frase que ainda hoje citei e que tem "muito que se lhe diga": deixo-ta aqui, também :)
"Quem sofre -pensa; e o tormento não é sofrer, é pensar."
(José Régio)
Pois... No GothLand :)
ResponderEliminarNão me espanta; costumo assombrar muito aquele lugar ;)
Quanto ao resto...
Em primeiro lugar não sei até que ponto a sinceridade de que falas é uma qualidade; costuma arranjar-me problemas e, à conta dela já meti em muitos "caldinhos" :P
Já no que se refere às "personagens" que vou criando por aí, faz tudo parte de mim; às vezes acho que sou uma amálgama sde várias personalidades -como se tudo o que sinto não pudesse caber num único "eu"; vai daí...multiplico-me (ou divido-me, ou whatever; é muito cedo neste momento- não estou a racioniar direito) :P
Finalmente... as máscaras...
Pois; não é uma questão linear, de facto... Mas isso, para alguém que acabou de dizer que se desdobra em várias personalidades, não me parece que este seja o lugar ideial para dar a minha opinião sobre o assunto, eheheh.
Um beijo*
PS: Também vou juntar os teus "lugares" às minhas listas :)
PPS: Estou com esta conta porque é a que abre automaticamente e deu-me preguiça de estar a pôr a pass da outra e tal, sorry :$
ResponderEliminar...seja como for, não deixo de ser eu ;)
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