quarta-feira, 4 de março de 2009

Monólogo e a Sombra que (é) Muda





Se nunca mais nos víssemos, inventariamos que nos víamos.

No dia em que o homem não viver na ilusão será outra coisa qualquer. Não um homem.

Menos uma ilusão mais três tomam o seu lugar, é uma hidra.

Despes-te de ilusões = despes-te de sonhos = despes-te de ti.

As sombras não têm sombra, não falam com ninguém quando as quatro paredes se fecham. Se não for eu a brincar com a minha sombra, torno-me nela.

Se passares por mim, como luz que passa por mim, vejo-te. Se cresceres contra mim, ficará escuro, taparás o Sol, é a única forma de nunca mais nos vermos, e é a única forma de me agarrares em vez de passares por mim.

Se nunca mais nos virmos, imaginarei que ficarás eternamente a tentar descobrir o mistério do cubo, porque o cubo és tu, e tentar descobri-lo é deixares de ser tu.

Ou que estás a arranjar as unhas, com os gatos a cobrirem o chão, e a caírem do tecto, e a cruzarem e rebolarem nas paredes, tu espreguiças-te, sempre que arranjas as unhas estás nua. E o gato que sorri quando te espreguiças é o único mistério do cubo: que o cubo é feito de espelhos. Que a luxúria resolve todas as equações que a razão fracciona.

Tu não respondes.


Ela:
Estou a fazer o cubo.

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