Lá em baixo
só haviam sonhos
Beijos, e
velas de junco
E camas
feitas por cantores
Depois, a
escuridão,
O rio arder
um pouco mais brilhante
A canção
dos archotes tornar-se mais
Sonora, a
olhar para um rapaz
Com as asas
incrustadas de gelo
A pele
arrancada de metade da cabeça
Uma centena
de cogumelos a crescer-lhe
Lá em
baixo, peixes cegos e brancos
No ventre,
intemporal, vasto
Silencioso
como a Terra Oca
Ou o Mar Sem
Sol, a ouvir o que
Nenhum
homem, os olhos divididos
A dourarem,
a cantar para si próprio
Puro como o
ar de Inverno,
Como a
última brasa de uma
Fogueira
morta, senhor do reino incendiado
Herdeiro de
ruínas, a luz a crescer
Fina e
aguçada como a lâmina de uma
Faca, as
estrelas a tornarem-se estranhas
Como
círculos de ferro, os dias destronados
Pelo Sol, os
anos soterrados no solo
Os séculos
desfeitos em água negra
Que banha
muito grávida e nua a mulher
De cabelo de
nevão.
André Consciência