quarta-feira, 7 de maio de 2014

Agora estavam a latejar





O fogo tem sempre fome
E com o calor a cobrir-lhe a cara
Ela estava em pé por cima de mim
Agarrada ao meu archote
E a uma tristeza que pensei talvez
Quebrar-me no peito.

Sob um manto de folhas
Os meus olhos estranhos
Fendidos e dourados
Reflectindo de volta a luz do meu archote
E um cabelo de Outono
A cantar uma canção de terra
Aos teus pés
Deixei crescer uma grossa
Raiz branca a deslizar para dentro
E para fora, o coração com medo
raiz agora grossa como a perna
E a criança que não era criança
Movia-se depressa
Uma ponte natural sobre o meu
Abismo escancarado
A pele branca excepto
A mancha sangrenta que lhe verti
Até à bochecha.

Agora, a minha raiz penetrava
A carne da sua coxa
E emergia do seu ombro
Com rebentos de folhas vermelhas
E brilhavas uma lagoa de sangue

À luz do meu archote. 


André Consciência

Sem comentários:

Enviar um comentário