quinta-feira, 1 de maio de 2014

Poesia Insustentável Auto-Sustentável


Sonho no terraço fora, o intermitente placar
Da Coca-Cola, faz nascer bagos de gás,
E se vislumbra o ruído dos aviões
Sem piloto, riscarem os sofás.

Um caminho frágil agarra a harpa
As linhas do metro agitam-se,
Genuínas e inalteráveis em mutuo amor,
A água deserta, a grande paz interior
Nada dorme, e o mundo
Suspenso, sem folhas ou silêncio.

A poesia toma o sabor dos ritmos
E cresce colossal nos insustentáveis mecanismos.
Nos prédios, as luzes não se apagam,
As luzes piscam sobre a sombra invernal
A cidade em extensão perpétua
Cobre de cinzento o Sol matinal, mais digo:
Quando o mundo acabou, estávamos,
Imagino pelo pisca-pisca vespertino,
Perto do Natal! As lixeiras confundem-se
Com a minha presença de volta nos trituradores
Ruidosos. E danço danço danço a passos
Luminosos, sob a pista dos nossos,
Ossos em lata.

Ah, que havia uma engrenagem, lá perto
Da estação fantasma, onde se ouvia um tal de Dante
Cantar coisas de miragem. Quando tenho febre,
Sei que tremo como as fábricas.

Há alarmes e carros, e toda eu tenho nisso
Veias e maquinismos que são todos
A linguagem.

Na aparelhagem ouvi uma canção
Que era de um século qualquer
E lá se dizia, que o coração
Tinha a forma de mulher.

Os olhos são as lanternas,
Os holofotes em cisternas
As cabeças rapadas dos postes de contenção
Não passam pessoas, vejo só
O seu clarão.


André Consciência

Sem comentários:

Enviar um comentário