Fingal Heads Dawn, David de Groot, s/d
O Tejo sorve o azul e mancha Lisboa de céus. O musgo atravessa a pedra dos castelos onde o Sol não o faz. O salgueiro é dotado de uma tamanhosa barba verde e exibe-a às planuras. As baías cavalgam as pétalas soltas das flores, acenando aos montes. O paraíso verte gotas para os vales e anéis para a Serra. A Terra acorda, estremece e as folhas caem. Ao longe chega o monge, em busca de sombras, imobiliza-se e contempla a Lua adormecer no rio. A música dos passos, o murmurinho do cais. A névoa fica muito quieta e observa o monge olvidar-se na sombra. As planícies gritam o silêncio das árvores. As filhas de Cariocecus no orvalho, pousam a correria e cessam os seus arcos de luar. Empalidecem e voltam o rosto, o rio esconde a beleza e o bosque a nudez. Película fina de treva salpicada por uma chuva de estrelas. O monge e o rio fitam-se como dois corpos de neblina, e fundem-se como dois espíritos na espuma. Uma onda de sonhos azuis mergulha as trepadeiras. Afunda-se o astro frio. A bruma da terra é mais escura, noiva do Tejo. Emudecidas, as rochas ocultam os nossos clamores. O fogo queima e a única luz é cinza. O monge solta um murmúrio com os senhores da tempestade, um leve riso nas câmaras do clarão. Embalado nos ventos, o rio paira sobre uma nuvem. O monge senta-se dependurado na penumbra, cego, emitindo luar.
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