terça-feira, 22 de abril de 2014

Vesta ao espelho


Satã Observando o Amor de Adão e Eva, William Blake

Nas mãos feridas que aguam o Mundo, vivem templos de bárbara
glória,
Intempérie que se precipita, gentilmente, nos riachos das clareiras
estivais,
E escala, intrepidamente, a paz esverdeada do corpo do sono e
depois,
O rubor do leitoso e último Pôr-do-Sol: a angústia do Verão
A nascer morto com lírios de fogo.
 
Aí, o céu ejacula carne lúcida nas fendas dos ventos
Para esculpir o teu corpo de serpente largada
Com a realeza de quem ri a dormir, e segreda
Que o Outono vale nada, que as cores ao cair
Se apagam de Inverno.
 
A neve rodopia e descendem crianças loiras, para correr contigo
Em campos de milho e de trigo, todas as folhas
Caídas, e as estrelas paralisam o céu:
 
Corvo na cruz negra das palavras, nas linhas de cevada,
Nos espantalhos molhados, e aquieta-se, branca, a pedra trémula.
   


André Consciência

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