quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dedos Que Cantam


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O futuro abre o olhar e cria para trás. Molhamo-nos. Sentir que nunca mais partiremos, e que nem a terra nem a lua são um lugar de verdade. Que o tempo não é uma passagem.
Depois, a tristeza das coisas que foram alegremente fundas e se esquecerão para sempre de deixar de ser. Iluminas-me no meu canto escuro, porque a noite chegou e o rio é a espessura da isolação que corre. Iluminas-me. O meu singelo cantar. A minha voz cheia de ti.

A menina de olhos verdes abre as pálpebras que tremem ao Sol. Ergue-se do verde como quem saltita, e segue o rio. O menino de olhos verdes é um pássaro que segue contra o rio, e rodopiam numa outra corrente que sobe, que desce e que sobe. A menina fecha os olhos e toca o sol com as pálpebras, porque param. Segue contra o rio e ele segue a favor do rio e rodopiam e o rio é um furacão fresco de alegria. Sentam-se palpitantes e desenham histórias com os dedos no ar, expressivos e dançantes. O verde namorisca o vento que salpica a água. Erguem-se de um salto e chove, não se tocam, senão com a alegria radiante dos corpos distantes. Fecham os olhos e abrem os olhos e o menino é passaro, é homem e ela dança e dança e a floresta ri-se com o rio.

Contra remoinhos e a fúria dos elementos navegam os cavalos sobre a terra de serpentes e feras, a brisa nos cabelos e o sorriso como uma fenda clara de céu.

Prescrutam as maravilhas do verde e do amarelo que borbulham no ar, com olhos laranja de fogo. Todas as serpentes de cabeça comida. O riso triunfal dos bárbaros na sapiência dos edificios de mármore onde os homens se reúnem para ler as colunas antigas.

O mundo cai e cai numa espiral, elas cavalgam a queda e voam, os cabelos contra a corrupção do tempo. Os estandartes orgulhosos erguidos contra as montanhas negras. O clarão do homem que se ergue ao Pôr do Sol como um Sol Nascente. As estrelas na ponta dos dedos que queimam e cintilam de riso e vitória, e as mulheres cospem as chamas e molham os campos.


Anrdé Consciência

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