segunda-feira, 31 de março de 2014

Ossian Cego


Ossian IX - Calum Colvin


Estou nu, despido pelos deuses, e guardo o nome no bolso.
Com a pedra só, com o vazio verde. Com a cabeça cheia de musgo,
Conto todas as estrelas que se apagaram
No céu, as montanhas tornam-se quedas de água, e libertam-se
Musas que se haviam afogado.

Sob a pressão do néon negro, leio um jornal de páginas em branco
E as árvores não desistiram de furar o solo. É aqui que tu moras,
Com as tuas conchas sonoras? Com barcos de guerra que são memórias?
Com o deleite das canções sem som? Com o farol apagado que guia.

O céu limpo troveja sem eco e todo este tempo vos guardei
Uma grande esfera quadrada, mantas brancas que, estendidas
Ao vento, soam os chifres de reis que nunca nasceram, e que acordam,
Os antílopes que vivem dentro da rocha, os bosques em forma de flecha,
Os meus olhos vermelhos de cansaço, o fogo no ventre da minha gravidez
De ser uma lança qualquer que um herói pregou ao chão.


André Consciência

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