domingo, 23 de março de 2014

Estátua da Liberdade




A lembrança não conhece a sequência. Cada momento está parado, para sempre, sem lugar para mais nenhum. Mas as coisas movimentam-se. As pessoas. Nós estamos no espaço entre elas. As cores. Os ponteiros que soluçam sem alterar o mundo, e o ar. A areia. A linha das tuas ancas: não há sorte ou caminho. Estátuas, o que são as lembranças. Eu, um homem duplo, porque não tenho imagem no espelho. Se vestisse rosto, não saberia ver o Sol a bater no mar, ou o teu lábio trémulo. Havia destroços na praia. Havia destroços na praia desde o início. Havia destroços na praia desde o início das praias. Também o caranguejo na minha mão, o caranguejo na minha mão não ser mais do que posso ver, do que me pode esconder.


André Consciência

Sem comentários:

Enviar um comentário