O Vampiro, Philip Burne-Jones, 1897
Como um Vampiro, Mão Morta, 2010
Fiquei sozinho e a roer o tempo sem ossos.
Era uma manhã cheia de erva seca e sangue e mãos que se transformam naquilo que as rodeia.
Era uma noite feérica no Inferno em que as feridas se lavam, como quando gememos, a dormir.
A vidraça chovia contra o vento, disso me lembro, e as persianas que se escancaravam para além dos seus limites, em tua casa.
A metamorfose do saber, descobri, era, naquela luzente geometria, uma pantera com asas de morcego, proibida de passar à frente de olhos tal como era. Por isso, coleccionávamos filmes pornográficos com ministros escancarados.
Passavam por cima dos móveis e das emanações, deixando pegadas de paixões, enquanto o meu olhar rasgava o jornal e a minha mão reconstruía o pénis.
Sentei-me no teu sofá com almofadas da Monroe e morto, apodreci, as mãos enterravam-se e eu escrevia não chegar ninguém a tua casa sem ninguém. Por trás dos muros da cidade, alimentava-me dos povos.
Feliz da idade em que o sangue das civilizações pulsa por esgotos e as suas canalizações.
André Consciência
* Santo Agostinho escreveu que os demónios tinham “imortalidade corporal e paixões como seres humanos", mas não podiam produzir sémen. São Clemente testemunha que os demónios possuem paixões humanas mas "não órgãos, assim eles voltam-se para os humanos para usar os seus órgãos. Uma vez exercendo controlo sobre esses órgãos, podem obter o que querem".
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