Sol de Palha - João Costa
Nada há de especialmente belo no bravio perfume,
Chuva que me faça estar aqui,
O teu rosto acende-se, seco e cadavérico. Não há poemas.
Eu estou aqui porque está frio. Porque o teu rosto recorda o pó
Que os meus anos acumulam em segredo. E a pele
De estar frio.
Esta terra que piso sem emoção, lavou-me as meninas
E sinto que fui eu a mata-las, sem pena ou remorso,
Mesmo enquanto dançavam o festival dos lírios,
E a Coroa do Sol girava.
Não tenho nome, o que tinha não era meu e depois esqueci-me
Quando o tempo se cansou das coisas, e retirou içando a bagagem
Das esperanças. Ainda me dói a fome, ou que a vegetação
Volte a crescer no meu mármore. Oh mãe, que engoliste até
As sepulturas, as carícias maternais, os sonhos, as lonjuras,
Se agora mato, que se regue o céu com a ancestral palavra.
André Consciência
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