Escultura da Basílica de Paray-le-Monial
Guarda o silêncio e o silêncio te guardará
O viandante aguardou, como o cavaleiro vela eternamente sobre a caveira do seu rei, e um dia viu abrir-se sobre si quatro estradas diversas. A cínica escuridão banhava Oeste. A Norte abriu-se a Lua, serenamente cantando. Viu a Sul o Sol, rugindo, inteiras, as planícies. A Este, palpitante, uma gruta para o interior de um coração.
Pensou nas encruzilhadas, recordou-se de como os rabis ali abandonavam os seus bodes, impondo as mãos sobre os seus focinhos e com eles libertando os seus pecados. Aquilo que largamos tem os seus mundos. Meditou. Poderão os mundos arcar, verdadeiramente, com todas as nossas faltas? Pois não é a sua carne aquela do Cristo Gnóstico apenas através do espírito do pecador? Depois escutou os trilhos. E aquele branco, que dizia:
Não sabeis que estais a ser sonhado, e que essa é a fluidez de toda a imobilidade? E se o reconheceres, não estarás já a sonhar? E, ainda, não será este um despertar? O que te pode ser negado?
Aquele amarelo, que dizia:
Quando o Sol está na sua hora mais alta, quem te haveria de usar como tocha? Não ama o leão o Sol? Que negro seria capaz de o amarrar à cólera, se o leão e a fome não são um contra o outro, mas amantes para sempre em paz?
Aquele vermelho, que não dizia nada.
E aquele negro, que dizia:
A um morto, nenhuma potência visível ou invisível nega a vida. A um morto, nenhuma porta se fecha. A um morto, nenhuma maravilha é insondável. A um morto, nenhuma amarra assombra. A um morto, nenhum senhor no trono atormenta.
Então, eu, o viandante, mesmo enquanto aguardava esperei, e aguardando enquanto esperava, vi a canoa tornar-se novamente Adão e Eva. Exaustos, na espera, mumificaram-se nos braços um do outro, arderam sem fim nem óleo.
Até os fantasmas nas ruas se cansaram e, mesmo sem casas, abandonaram os moldes e voltaram para as suas sombrias habitações. Todos os manequins de pus se tornaram relógios do tempo escorrendo para o solo como areia. Sobrou apenas a rua que nada tinha vindo a dizer.
O viandante aguardou, como o cavaleiro vela eternamente sobre a caveira do seu rei, e um dia viu abrir-se sobre si quatro estradas diversas. A cínica escuridão banhava Oeste. A Norte abriu-se a Lua, serenamente cantando. Viu a Sul o Sol, rugindo, inteiras, as planícies. A Este, palpitante, uma gruta para o interior de um coração.
Pensou nas encruzilhadas, recordou-se de como os rabis ali abandonavam os seus bodes, impondo as mãos sobre os seus focinhos e com eles libertando os seus pecados. Aquilo que largamos tem os seus mundos. Meditou. Poderão os mundos arcar, verdadeiramente, com todas as nossas faltas? Pois não é a sua carne aquela do Cristo Gnóstico apenas através do espírito do pecador? Depois escutou os trilhos. E aquele branco, que dizia:
Não sabeis que estais a ser sonhado, e que essa é a fluidez de toda a imobilidade? E se o reconheceres, não estarás já a sonhar? E, ainda, não será este um despertar? O que te pode ser negado?
Aquele amarelo, que dizia:
Quando o Sol está na sua hora mais alta, quem te haveria de usar como tocha? Não ama o leão o Sol? Que negro seria capaz de o amarrar à cólera, se o leão e a fome não são um contra o outro, mas amantes para sempre em paz?
Aquele vermelho, que não dizia nada.
E aquele negro, que dizia:
A um morto, nenhuma potência visível ou invisível nega a vida. A um morto, nenhuma porta se fecha. A um morto, nenhuma maravilha é insondável. A um morto, nenhuma amarra assombra. A um morto, nenhum senhor no trono atormenta.
Então, eu, o viandante, mesmo enquanto aguardava esperei, e aguardando enquanto esperava, vi a canoa tornar-se novamente Adão e Eva. Exaustos, na espera, mumificaram-se nos braços um do outro, arderam sem fim nem óleo.
Até os fantasmas nas ruas se cansaram e, mesmo sem casas, abandonaram os moldes e voltaram para as suas sombrias habitações. Todos os manequins de pus se tornaram relógios do tempo escorrendo para o solo como areia. Sobrou apenas a rua que nada tinha vindo a dizer.
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