segunda-feira, 8 de março de 2010

Casa de Gelo


Cic na


Na terceira noite foram-me dadas roupas, sob o pretexto de vir a necessita-las. Conduziram-me à Casa de Gelo, cuja porta se fazia ver ornamentada por três corações de fogo esculpidos a gélido. No interior existia, em toda a câmara e provindo da solidez do frio, o mesmo brilho prateado que antes me sussurrara, mas que desta vez permaneceu em silêncio. Na primeira hora resisti com bravura, aquecendo o corpo por todos os meios. E ainda na segunda.

Na terceira hora o frio vencia-me o corpo trémulo. Despi as roupas, e aprofundei-me nessa hostil temperatura. Toda a vontade e todo o desejo haviam despertado, porque essas coisas é que movem o mundo cego, tendo em vista a sobrevivência dos que, porque vão morrer, pensam poder não vir jamais a morrer. Aprofundei-me no gelo. Deixei de querer, transcendi, e o corpo ganhou o silêncio das coisas congeladas. Encontrava-me a ser o amor que já preservava o universo ainda antes de se conceber: o magnetismo inesgotável que rodeia as coisas que derretem de encontro ao mundo visível: Os imortais, porque a morte já foram.

Não vou morrer, sei já ter morrido. Agora, toda a minha carne no interior dos meus ossos.

3 comentários: