domingo, 28 de fevereiro de 2010

Rio de Pus



The Wreckage of My Flesh - My Dying Bride


Quem testemunhou a confusa ira do sangue, não se felicitará com, e preferirá a sua ira, à observância da letal melancolia a seguir advinda: descobrindo-se rejeitado, após o tempo demorado da travessia, o sangue desiste de si mesmo, e eis que em pus se vai suicidar. O fétido da doença demarca a corrente pútrida. A canoa, nauseada, estremece, vomitando cabelos loiros que rodopiam para se perder com o verde, com o amarelo. Toda a raiva que o sangue, por gerações todas, não domou, agora é corpo no homem para o consumir (agora é furúnculo no homem, para o consumir). Mas, não tendo antes cedido à sede, e primeiro aprendido a auto-revolução do escorpião, reconheço ser este pus a (anti)matéria-prima dos magos. Com ele, construo os manequins, e guardando aguardo, na incerteza de que a minha espera fará do meu vulto a estátua correcta.

Um pardal pousa sobre cada um dos manequins, separa a lança para cantar, os olhares vertendo vazio, e toda a sonoridade da câmara azulada no pus, inclusive o ruído mudo do silêncio, é engolida. Nenhuma vibração, nenhuma ressonância. O meu coração bate sem eco. É hora.

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