domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Metade Devorada VIII


The Betrayal - Garden of Bad Things


Muitos nomes. Existem muitos nomes em muitas bocas com várias letras, e tu és uma combinação perfeita de letras compostas de sonoridade. Depois, há muitas bocas que exalam o teu ar e pronunciam o teu nome enquanto o ouves, porque, no dia a dia, se cruzam em ti e contigo e te interrompem o ser e dão novas direcções ao olho do espírito. De todas essas vozes que acompanham a tua vida eu nunca ouço o alento, eu nunca ouço o teu nome, ninguém diz o teu nome na minha vida, por isso eu articulo-o muitas vezes nas minhas cordas vocais. Existem todos aqueles que interrompem o teu ser, eu seguro-o todo como um berço de céu, não te atravesso, corro contigo, corremos e somos um só correr.

Condenados ao espelho… Condenados ao espelho…

Caio e rasgo a pele, rasgo a pele e uivo, pareço sentir as alturas das árvores nocturnas como gestos que me tocam, a vida entre a vegetação e os sons longínquos, todos ao alcance do meu acto voraz.
Vislumbre de ti, os meus olhos laranja pintam-te e engolem-te, a minha pelugem é um fogo de Vontade, enrolo-me sobre as tuas coxas descobertas de Luar, mas queimo-te, mas queimo-te. É a tua mordedura em mim. Voraz no sangue que pulsas, voraz na nossa santidade, por um verso de pecado orgulhoso, por uma lua menstruada que nos banhe.
As nossas noites são mentira, e hoje acordei numa noite sem mentir, hoje eu desejo a neblina uma vez mais, na brancura da verdade e nos corredores entre os tempos. Este lobo é um guardião de momentos, os momentos são o seu rebanho, e os segundos as suas presas. Uma lufada de um novo ar e tu cais, a tua carne espirra um perfume desagradável a queimadura, a pacto, e eu desprezo-te, hei de ser eu, sua puta, em cada homem que entrar nas tuas fendas para então cuspir sobre o teu corpo, abandonar-te à exaustão, deixar-te para trás sem olhar para trás, quebrar cascas de ovos pisar os teus beijos e estilhaçar dentes razos ao chão.

Todos os sonhos, são sonhos demais. Toda os sonhos que não sonhamos, são sonhos de menos.

A serpente enrolava-se muitas vezes e eu perdia a conta dos seus desenhos, ela não tinha pele à excepção do calor das mãos enlaçadas, e voltava a traçar as tuas formas no espelho do meu coração, reproduzia o teu riso nas paredes do meu corpo, quando o teu riso dizia o meu nome e eu te salvava, ou quando uma gargalhada de ti deixava escapar o teu nome e me redimias de todos os contrários. Éramos espada e cortávamos o ferro das impossibilidades. Levo-te e o nosso rio come o mar. Vai-te embora, esqueço-te todos os dias. O mar fala-me de ti. O mar fala-me de coisas que eu nunca vi. Estamos sós em todos os cantos que não iluminamos. Fingimos muito, não é?

Fins. Danças e cartas desviadas. Formas desvairadas e saudosas, formas que contem demais para formas. A morte não é nenhum de vocês, a morte não és tu, metade-devorado, nem o simples e infindo vagabundo, a morte é aquilo que vocês impedem, é aquilo que, não alcançando, me rasga o peito e cospe estas palavras sangrentas, convulsiona estas mãos a auto-mutilarem-se em publico. Queimar, queimar e perfurar na queimadura, os olhos cegos e ardentes de todos os leitores: ninguém compreende, os olhos que ofuscam e possuem são os buracos na minha pele, são os meus sentimentos desfigurados em textos erráticos: que corrompem a verdade a cada leitura, que me amarram e me apagam no tempo. As obras não imortalizam, as obras apagam os autores no tempo: desvanecem, irreconhecíveis..

Não há chão. Nunca mais quero chão.

Estávamos sozinhos, quando Deus decidiu queimar os homens. Todas as amarras desatadas, foi como se roubassem articulações, foi como o passar de mutilações: aqui não existes. Aqui tudo acorda e nada existe. Não existem mãos, tudo voa. Aqui as pinturas dissolvem-se, sopros estranhos arrasam os nossos ouvidos e escondem-se num lugar inalcançável. Somos livres: o nosso preço: mascaras, muitas mascaras, todas as mascaras: um monte que sepulta: o céu.

A noite escura da invisibilidade. Piso a noite com a cabeça. Caio e rasgo a pele. Rasgo a carne da terra com a cabeça, os meus pés pisam o céu (já não me ferem dentes pisados): Não há chão, nunca mais quero chão.

Lembrança: A noite escura da invisibilidade. Piso a noite com a cabeça. Caio e rasgo a pele. Rasgo a carne da terra com a cabeça, os meus pés pisam o céu (já não me ferem, dentes pisados): Não há chão, nunca mais quero chão.

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