sábado, 27 de fevereiro de 2010

Rio de Sangue


The End - The Doors

A luz negra dos escorpiões foi-se abatendo nos raios rubros do céu e afundaram-se os aracnídeos, lentamente, num remoinho aéreo de sangue. Lodaçal dos vermes e dos demónios importantes – os outros vivem nos caixotes de lixo e na gordura dos opulentos. Os escorpiões em eleições. Rimei. Vamos nos revoltar, vamos, vamos nos revoltar – quis o sangue. As formigas vermelhas cobrem, de mandíbulas estimuladas, esta árvore nua. Um grupo de homens com implantes e microfones em círculo, falam com vozes distorcidas e mecânicas. Falam de partidos como quem fala de contas. Einstein sacrificado com um macaco pendendo da sua garganta por uma forca, e um macaco alado sobre ele, que lhe caga nos olhos e ri. Depois bandeiras, umas pintadas, outras queimadas. Fico cego, só escuto este canto índio. Chego a lembrar-me, depois, dos canibais. E dos canibais para fora, como Antonin Artaud. As pupilas dilatam-se. Que raiva! Que raiva! Vejo homens a vir à costa e eu a roer-lhes os dedos que se agarram à firmeza do pontão no Porto. Está uma ventania danada, tenho relâmpagos dentro do mar. O vosso navio de loucos, afundado. Engolir as entranhas dos poetas inundados. Frenesim do sangue. Chamem-lhe o que lhe chamarem, é isso a poesia. Frenesim do sangue. Eu não bebo. Está um dia solarengo dentro do meu propósito. O meu sorriso não tem igual. Não me confundo com os outros.



Silêncio.

Viste o acidente lá fora?

Uma centena de homens, cada um com uma centena de homens na mão, saiu apressadamente, aos tropeções. E discutiam sobre os corpos moribundos das crianças. O cântico cada vez mais surdo. Um ergueu o punho e esmagou a cabeça vizinha, jorrando mil percevejos.

Correm os carteiros.

Viste o acidente lá fora?

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