quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Drowning



Uma a uma, as pessoas adormeceram. No exterior, a neve caia sobre os muitos telhados da memória, com a forma de silêncios longos. As cores estavam às escuras. Pegava numa chama pela raiz. Só se ouviam os relógios, partidos, à procura de funcionarem uma vez mais. Por favor... Disse. Estou aqui, André. Respondeu o palhaço do frio astro. Estremeci, imaginando até onde a sua fúria o levaria. Há muito tempo, vagueou pela neve até morrer, sem alcançar lado algum. Tem de ser, palhaço. Tu e eu. Murmurei. Percorri a casa em bicos de pés assim que a primeira luz do dia agarrou o chão. Com a luz, todos os adormecidos haviam agora perecido. Que os santos vão contigo, André. Disse o intruso, retirando a chama do meu braço.

A principio, nem sequer tentei descobrir onde era o covil do lobo ornado ou como chegar lá rapidamente. O meu objectivo era desaparecer. Assim, fiz o que pude para tornar a minha alma difícil de seguir. Muito dentro de mim, eu podia fechar os olhos e sair em qualquer outro lugar. Tens a certeza? Pareces estranho, triste. Não precisas de vir, sabes? Pedi. Eu sei, André. A superfície do lago mostrava-se gelada e a bruma pairava como uma mortalha cinzenta móvel. Os pássaros nus e falecidos, penduravam-se inanimados nos ramos dos azevinhos com bagas. A vegetação encontrava-se triste. Por cima das copas afastadas das árvores não havia céu, só o infinito. Gelaria tão depressa que não teria tempo de me afogar. É ela - O quê? - É ela! O palhaço enterrou a cabeça na palma da minha mão, tremendo violentamente. Tens medo de mim, André? Perguntei-lhe.


Horned Wolf

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