quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Apocalipse Acto III

O facto inegável de não possuirmos qualquer tipo de forma é interrompido pelas maquinações da palavra, a existência da mesma criou um Deus que, sendo inferior a nós, sobre nós domina. A palavra não tem forma e, todavia, nomeia a arquitectura da forma. Depois de um homem conhecer a palavra, mesmo o esforço de a calar, se equivale ao esforço de tentar conter um caudal num recipiente frágil demais para o mesmo. Neste sentido se criaram os ossos (gigantes para a chispa que somos), antenas que escoam a alma e a reduzem ao pó, com o fim de eliminar o vírus da palavra. A consciência, entre a morte a que o seu corpo a força e a morte a que a sua alma a força, improvisa e procura crescer para além do tempo e do espaço agarrando-se com todo o ímpeto ao tempo e ao espaço. Este crescimento acelera a sua dissolução, a consciência, pois, procura a mágoa, de forma a paralisar-se e a olhar sobre si mesma, ou sobre outro, que é não só idêntico a olhar sobre si mesma, como uma e a mesma coisa. É necessário, todavia, que alguém acredite na sua vitimização, para tal fim o ente magoará o seu semelhante, procurando, além disso e desta forma, preservá-lo. Mas o homem que rir e o homem que, através dessa prática, troçar desta condição, será o homem que, à porta do inferno, guardará as chaves do paraíso.

O riso do Joker é inútil, e muito menos salva, por isso, ele contém todo o significado que o mundo pode conter, e o êxtase de existir.

A alma é uma criança, mas a palavra, que ainda está para vir e sempre o estará, é anciã e imposta sobre a alma.

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