terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Gárgula do Buçaco


Imagem: Bola de Espaço (Palácio Real do Buçaco) - Horned Wolf
Música: Mask, Bauhaus, 1981


Escreverei sobre a essência das lendas.
Podia começar no Ninho de Águia,
Voando pelos moinhos conjuntados,
E terminando pousado na Senhora do Monte Alto,
As termas do luso e os frondosos verdes.

Nada disso importa.
Os nossos olhos estão mortos e só o líquido das palavras se move.
Há uma gárgula no Palácio Real do Buçaco.
Escoa as águas, inclinando-se para o mundo aberto
Do horizonte em linha recta, enquanto a água dos olhos
Corre para dentro.

Não pousa ali anjo que venha sem Deus todo,
Se pousa é escorrido,
Estar com Deus é estar para fora,
O temor da coisa absoluta e real:
A pedra ser, mesmo se nunca viveu,
E tudo o que viveu se esmagar tudo contra a pedra.

A gárgula não foi açoitada para os infernos
Nem elevada para os céus:
Se fosse é que não teria as penas da eternidade.
Também Deus reparar nela é a falta de Deus reparar nela.

O segredo da gárgula se estender é este:
Ela quer ver-se a si própria e não se olha.

Esta é a lenda da Gárgula do Palácio Real.
A história não passa por baixo de si.
Não se descobre. Contrariada,
Sem todo nem contra-parte.


André Consciência

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