quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Talha da Cal


A Talha da Cal - Chanel


Pelas nove da manhã, Évora com um Sol Íntimo
Dourando o ar. O orvalho fresco
Quer que a planície seja um vento. Mal a olha,
O cansaço submerge-o e
As praças continuam longe, a cidade, branca,
Os seus olhos de luto. A cidade toda é uma alucinação
Das árvores da avenida, ou talvez da luz no empedrado
Das ruas, ou do sangue em que se cruzam as fachadas
Dos prédios. Os templos são velhos e as manchas negras
O alto. As Torres da Sé disparam o céu em lapsos.

A tarde é calma, com o Outono moribundo
Sobre a massa da montanha, erguida em frente
De uma casa ao Sol. Há pátios, reflexos
De brancura, globos albinos, candeeiros pálidos.
Entrou no seu quarto solitário, abriu na noite
A janela, a massa da montanha ainda banhava
A grande e solene aldeia suspendida sobre a Lua.


André Consciência

Sem comentários:

Enviar um comentário