quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Das coisas que param


Dedicado à Babalith


Arachne - Judith Mason


A senhora está no banco de trás da casa, parada, e isto explica porque é que as coisas param. Estar parada no banco de trás da casa é como Lua a crescer na erva e os corpos mortos romperem a luz que é o escuro. Isto é, a senhora está pendente no banco de trás, sente a vida como uma coisa que nasce de muito longe para perto dela, e a distância ser o tempo de se aperceber disso. Imagina que as ervas a crescer (na Lua ou seja onde for) existem dessa forma, porque não é possível testemunhar o crescimento de coisa nenhuma sem ser imaginando a memória. E o que é isto da memória? A memória é uma clareira numa floresta de sensações muitas, ou um homem que se perdeu numa terra estrangeira e inventou as terras natais.

Agora calemos o suposto autor e a suposta velha na cadeira de baloiço à janela da retaguarda da vivenda do jardim-de-infância, autora do autor. A coisa mais salutar é depois que as coisas se escrevam e se escavem a si próprias, porque nunca precisaram de intérprete, que é, na escrita e na arte, o lazer e o intervalo nas coisas se trabalharem quietas, e uma segunda camada ilusória de movimento e fantasmagoria (agrada-me esta palavra porque evoca debaixo do mesmo conceito o conceito “agora” e o conceito “fantasma”). Que é, no fundo, o fantasma do Fernando Pessoa, não o nego.


André Consciência

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