Leitor, imagina o ente amado, imagina o ente amado. Imagina o ente amado a perder as irregularidades, uma a uma, mentais, emocionais, físicas, a perder as irregularidades uma a uma até se tornar num globo de pedra translúcida. Um globo de pedra translúcida que é possível ver por dentro mas não através. O ente amado vive ali, mas não tem cauda nem cabeça. Aquilo vive, mas sem principio nem fim. Nunca parece seco quando se lhe toca, é um pouco aderente como a carne, sempre quente. Imagina como é agradável apalpar, acariciar com os dedos, esfregar contra as faces. Aquilo vivia. Imagina agora que ganha um seio. Imagina agora que se torna num grande seio redondo. Como é que este seio te reage? Imagina agora que o bebes, mas enquanto o bebes torna-se cérebro, coisa móvel sem resposta. Enigma. Aperta-o contra o peito e imagina que o teu peito não tem forma. O globo é mãe, amante e filho. Depois vai-te embora, e leva contigo toda a luminosidade da sala enquanto a Primavera se transforma perfidamente em Inverno.
Horned Wolf
Sem comentários:
Enviar um comentário