quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Malak XI

Mutsumi Yamamoto



Iraque, 2050 a.C.

A terra luxuriava entre o tigre e o rio imenso, arduamente trabalhada pelos homens. Cidades-estado, chamavam-lhe, o que significava que a terra e as pessoas em redor das cidades, estavam ainda assim nas cidades, e as cidades expandiam, possuíam um corpo mais vasto que a alma. Ou simplesmente significava algo ainda mais incrível, que o homem vencera as secas. Descobriram a forma do mundo e aplicavam-na sobre o próprio, e os ónagros vão a puxá-la e toda a natureza lhe obedece.

Há cinco sóis, respiro Ashnan. Com a sua pele de palha dourada, a sua cabeça enfeitada de branco, consegue calar-se tanto como eu. E quanto mais se fica a calar mais se lhe empresta o tamanho do céu aberto de noite, caido nas imensas areias. As ovelhas da sua família tresmalharam-se a estragar colheitas vizinhas, e para a multa foi vendida, eu comprei. Ashnan tinha então catorze sóis. No Verão, gosta do rio a correr, a seduzir as palmeiras e o vime. Por vezes os homens vão ali deixar o barro a secar contra o astro, depois seguem as ruas de Ur, já nas ruas, enchem-se da gente nas ruas que segue igualmente para o templo no topo do Zigurate dedicado ao Pai, mas que desta gente é mãe. Em tempos estes sacerdotes de Nanna governavam a cidade, então eu podia perfilha-la com dignidade. Com os êxitos do rei, porém, e o afastamento do sacerdócio, tornei-me indesejado: os reis dominam com o que se conhece e por isso não amam o conhecimento.  

Em tempos experimentei uma casa ali. Embora Ur possua ruas largas a minha casa era precedida por uma variedade de ruas estreitas, possuia dois andares de barro sólido e um pátio central aberto. Ajudava Geme-enlil a vestir-se quando agraciava as vitórias do rei, mas era quando de regresso, a ajudava a despir-se, que se fazia sacerdotisa. Dei também a comer uma flor branca do meu cabelo a Shulgi, o menino soldado, que o fez novamente capaz. Os ricos adquirem os pobres e chamam-lhes escravos, mas são mais escravos do meu povo que os últimos. Num trono de pedra, ensinei os símbolos da escrita a alunos sentados em argila: e enquanto caiam numa segunda camada do mundo eu respirava os seus corpos indefesos, em botão.


Horned Wolf

Sem comentários:

Enviar um comentário