Durante e em expressão de um improviso das bailarinas Mary Nemain e Soraya Moon
Uma corrente de grinaldas
Atada à volta do tornozelo
Um trago de limão
Pelos dias e noites de Verão
Trilhos de serpente que fendem
O corpo em passo de dança
Fogueiras entornadas dos precipícios
Da manhã, o copo a cair
Para o movimento, o espírito
Deslumbrando-se de deslumbramento
Depois, a serenidade transparente
Dos dias se moverem em mim
Com a partilhada vontade dos astros
Os vulcões a apertarem-se no espaço
Entre a vida e a vida
A sensualidade a lavar o peso de ser peso
E a vida a rir-se por vida ser
E a morte, para longe entardecer
O meu corpo estilhaçado
A dançar por todo o lado
Porque a alma prende o fogo
E o vulto em desaforo
Alumia-se ao vulto e sem decoro
Cria a coroa de grinaldas
O tornozelo entre as almas
André Consciência
sábado, 24 de maio de 2014
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Reflexos
Lá em baixo
só haviam sonhos
Beijos, e
velas de junco
E camas
feitas por cantores
Depois, a
escuridão,
O rio arder
um pouco mais brilhante
A canção
dos archotes tornar-se mais
Sonora, a
olhar para um rapaz
Com as asas
incrustadas de gelo
A pele
arrancada de metade da cabeça
Uma centena
de cogumelos a crescer-lhe
Lá em
baixo, peixes cegos e brancos
No ventre,
intemporal, vasto
Silencioso
como a Terra Oca
Ou o Mar Sem
Sol, a ouvir o que
Nenhum
homem, os olhos divididos
A dourarem,
a cantar para si próprio
Puro como o
ar de Inverno,
Como a
última brasa de uma
Fogueira
morta, senhor do reino incendiado
Herdeiro de
ruínas, a luz a crescer
Fina e
aguçada como a lâmina de uma
Faca, as
estrelas a tornarem-se estranhas
Como
círculos de ferro, os dias destronados
Pelo Sol, os
anos soterrados no solo
Os séculos
desfeitos em água negra
Que banha
muito grávida e nua a mulher
De cabelo de
nevão.
André Consciência
segunda-feira, 19 de maio de 2014
RAMMSTEIN; Wilder Wein (1998)
V. M.
Vinho Selvagem
Apresento-me
perante o teu castelo
E anunciam o regresso
apenas ao rei
Deus esteja comigo
e abra os teus portões
molhados e mornos
lentamente
perante o teu regaço
foi escrito
Profundo na água
"não atravesses"
Mas o meu desejo
troça das asas
como um pombo
febril e húmido
Diante a escuridão
transformado pela luz
escondido
indefensável
eu aguardo por ti
no fundo da noite
só uma uva
e amargo como neve
aguardo por ti
no fundo da noite.
tradução livre
por André Consciência
Vinho Selvagem
Apresento-me
perante o teu castelo
E anunciam o regresso
apenas ao rei
Deus esteja comigo
e abra os teus portões
molhados e mornos
lentamente
perante o teu regaço
foi escrito
Profundo na água
"não atravesses"
Mas o meu desejo
troça das asas
como um pombo
febril e húmido
Diante a escuridão
transformado pela luz
escondido
indefensável
eu aguardo por ti
no fundo da noite
só uma uva
e amargo como neve
aguardo por ti
no fundo da noite.
tradução livre
por André Consciência
domingo, 18 de maio de 2014
Saco de Estrelas
Ouvia-se as
raparigas a ladrar enquanto corriam para casa
O tamborilar
de pequenos calcanhares nus sobre lajes
Lá fora,
debaixo do frio céu outonal, os rapazes estavam a jorrar,
E o vento
varria as planícies onduladas.
André Consciência
André Consciência
sábado, 17 de maio de 2014
Coxas Fumegantes
As suas
lágrimas eram
Chamas, a
sua língua brasas
E cinza, e
as estrelas de manhã ainda pairavam
Suspensas
sob o bréu.
Entravas
pela janela
Na forma dos
flocos de neve
A flutuar no
vento
E o meu rubi
pulsava
E os lábios
transformavam-se em dentes.
André Consciência
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Branco Como O Osso Antigo
Só as
árvores, infindáveis árvores
A submergir
a torrente de folhas mortas
E castanhas, em verde vidência
O campo
ensopado por caules mortos
O trigo
apodrecido, depois um archote
A árvore a
entrar em erupção
Aos uivos,
as estrelas descerem os olhos
E vertendo
das hastes a arder
O veado
negro faz-se escoltar
Por crianças
despidas, os seus cabelos
Um milheiral
sobre a face
Da Lua.
André Consciência
terça-feira, 13 de maio de 2014
Corre no Sangue
Luz das
estrelas e espuma do mar vestiam-na
A donzela, tímida, estava amarrada
Harmonias de
prata estrondeavam no seu crânio
Como um cão,
eu roia-lhe as orelhas
E, de um
lado, cabelos tão vermelhos como o sangue
Caiam-lhe
até aos ombros em caracóis oleados.
Um leopardo
aos nossos pés,
De língua
negra,
Avermelhava-nos
com sombras escarlate.
André Consciência
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Pecado
Os homens gemiam sob uma lâmpada tremeluzente
Flores de
sangue haviam brotado nas feridas abertas
Como lábios
rechonchudos de uma mulher.
Á
superfície, um enxame de crianças coradas
Construia
neve. E uma mulher de sal
Com um
semblante queimado pelo vento
Presidia.
André Consciência
O Palácio do Amor
Tritões de
mármore iluminavam o caminho enquanto
O vento
vinha aos gritos e uma rapariga nua saltava
Em
cambalhota. Acima, a Lua cheia nadava no céu negro,
Ruborescendo homens de pedra enlouquecidos
Pela fome, e
eu procurava um Sol
No interior
da névoa.
André Consciência
quarta-feira, 7 de maio de 2014
A Filha dos Campos Dourados
Para lá da
água a escorrer-lhe entre os seios
Cintilantes
ao Sol
Cantavam
rouxinóis quebrados pelo vento.
A leste, a
escuridão juntava-se atrás
De uma ilha
rochosa.
André Consciência
Agora estavam a latejar
O fogo tem sempre fome
E com o
calor a cobrir-lhe a cara
Ela estava
em pé por cima de mim
Agarrada ao
meu archote
E a uma
tristeza que pensei talvez
Quebrar-me
no peito.
Sob um manto
de folhas
Os meus
olhos estranhos
Fendidos e
dourados
Reflectindo de volta a luz do meu archote
Reflectindo de volta a luz do meu archote
E um cabelo
de Outono
A cantar uma
canção de terra
Aos teus pés
Deixei crescer uma grossa
Raiz branca
a deslizar para dentro
E para fora,
o coração com medo
A raiz agora grossa como a perna
E a criança
que não era criança
Movia-se
depressa
Uma ponte
natural sobre o meu
Abismo
escancarado
A pele
branca excepto
A mancha
sangrenta que lhe verti
Até à
bochecha.
Agora, a
minha raiz penetrava
A carne da
sua coxa
E emergia do
seu ombro
Com rebentos
de folhas vermelhas
E brilhavas
uma lagoa de sangue
À luz do
meu archote.
André Consciência
Prata Martelada
Lágrimas
frias pingavam sobre eles a cada passo
Mergulhados na sua própria lagoa de silêncio
E fogo, a
soltar baforadas no frio
Se a manhã
viesse seriam crianças
A dormir no
jardim com cem borboletas no dorso
A subir uma
árvore, a apanhar peixes
Nas mãos,
sem que a Casa houvesse deles caído
Pintando em
tons de marfim e prata
Mil telhados
abaixo dela, enluarando fossos
E pirâmides
e eu sozinho,
Os meus
dragões a rugir na escuridão,
O vento nas
árvores de fruto e a palidez
Da mariposa
do jardim, as estrelas a tapar
A Grande
Porta.
André Consciência
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Casa de Gelo,
Saúda os Senhores no Trono
terça-feira, 6 de maio de 2014
O fogo no fosso
O coração flamejante em vermelho aguarda
Molhado e a
pingar, que uma mão em branco se lhe enterre
Na pele onde
se abre uma goteira e nenhum archote
Está aceso.
Mas quando o
cometa vermelho furar
Os
unicórnios comerão a Palavra,
Na noite, sorverei da alvorada o pão
Da terra, então terei erguido o capuz para ensombrar
O rosto,
esvoaçarei no interior do meu crânio
Como uma
traça apunhalada na chama de uma vela
E uma folha
incendiada, o corpo imóvel
Esculpido em
sal
Com a mão
branca a arder para manter afastado o frio.
André Consciência
segunda-feira, 5 de maio de 2014
O relâmpago dividiu o céu
Trotando para Leste sob um manto de estrelas
As jovens donzelas são nuas e belas.
Seguem serpenteando através de bosques
E vales, uma longa fita de prata
Pois durante algum tempo se maravilha
O mundo em cascata.
As mais ousadas deixam-se ficar
Ao Sol com lama pelos joelhos
Depois de beijadas vão a chorar
Criar um príncipe em todos os espelhos.
André Consciência
Os deuses negros e imóveis choraram
O fantasma dormiu aos pés da cama esta noite
Eu não sonhei com a aurora que afasta o vento
Senti algo frio e húmido na cara, ergui os olhos.
As peles cobriram-na,
Um seio içou-se por sobre uma égua.
André Consciência
sexta-feira, 2 de maio de 2014
A verdade é um momento do falso
Father, I'm Going to Kill You, Dominic McGill, 2005
O rio flutuante, o fugitivo antílope, a rugosa pedra no restolhar de folhas, a areia cinzenta do deserto que esconde o fogo cristalino, as cadeias inflamadas dos penhascos, sem nenhuma palavra, sem nenhuma palavra, sem nenhuma palavra. Tudo é absoluto. Eu não sei porque não o vi antes. Nas cidades, não o via. Nem mesmo quando sobrevoava no meu balão lento as enormes casas de banho de azulejos azuis, com estatuetas claras, várias, e conchas escuras em espiral, rodeadas de tribunais banhados a ouro onde dormem entre papel e tinta as sonolentas escribas. Não o via nas esquinas quadradas, não o via nas escribas serenas, nos edifícios, nem mesmo nas nuvens rosadas quando o Sol se punha. Será que a pedra é menos pedra quando a mulher a esculpe com os seus dedos? Se por um momento, neste roteiro, me despisse de toda a tecnologia, seria diferente desse verme marinho que o cachalote rói sem consciência? Não cairia por terra, para me arrastar, apanhada por toda a gravidade em simultâneo? Nos limites dos ramos, o gelo amarra-se. Uma janela voltada para o lago, e a brisa da Lua há de me visitar. É de noite, é de dia, e na cidade nunca é de noite, nunca é de dia. Faço desenhos quando o silêncio chega ao fundo, desenhos geométricos, dou-lhes nomes bárbaros, e grito-os com voz de menina, como se gritasse as árvores de estrondoso tamanho.
Uma janela voltará para o lago. As roupas dei-as ao fogo, cubro-me do calor e do frio. O meu corpo canta dentro dos leões marinhos, e esse é um horror que ninguém conhece na cidade. Mas é assim com todas as criaturas, não há outra razão para desenvolverem novas formas e se adaptarem ao meio ambiente, o corpo não acaba no corpo. Esse horror não se conhece na cidade, na cidade, o corpo acaba no primeiro limite: a mente, e não chega a existir.
Dou por mim a perguntar-me se penso mais com os pés nus do que com a cabeça, pois pisando o granulado conheço o texugo no subterrâneo, e a sua filosofia é simples e sábia: nenhuma. A minha filosofia não é tão simples, e nunca tão sábia: procurar o Senhor Lagarto, que virá a criar pela primeira vez as cidades feitas de lavatórios e tribunais, os balcões, a tecnologia, a terra gasta e moída, a álgebra, os oceanos, as trepadeiras, os leões africanos, a surda solidão após a tempestade, os ilimites, os seios parecidos com os calcanhares, os caminhos em linha e os sem traço, as coisas, e as minhas mãos, e procurar este Senhor Lagarto somente nas minhas mãos, feitas de desgaste e força, passado e passado.
O rio flutuante, o fugitivo antílope, a rugosa pedra no restolhar de folhas, a areia cinzenta do deserto que esconde o fogo cristalino, as cadeias inflamadas dos penhascos, sem nenhuma palavra, sem nenhuma palavra, sem nenhuma palavra. Tudo é absoluto. Eu não sei porque não o vi antes. Nas cidades, não o via. Nem mesmo quando sobrevoava no meu balão lento as enormes casas de banho de azulejos azuis, com estatuetas claras, várias, e conchas escuras em espiral, rodeadas de tribunais banhados a ouro onde dormem entre papel e tinta as sonolentas escribas. Não o via nas esquinas quadradas, não o via nas escribas serenas, nos edifícios, nem mesmo nas nuvens rosadas quando o Sol se punha. Será que a pedra é menos pedra quando a mulher a esculpe com os seus dedos? Se por um momento, neste roteiro, me despisse de toda a tecnologia, seria diferente desse verme marinho que o cachalote rói sem consciência? Não cairia por terra, para me arrastar, apanhada por toda a gravidade em simultâneo? Nos limites dos ramos, o gelo amarra-se. Uma janela voltada para o lago, e a brisa da Lua há de me visitar. É de noite, é de dia, e na cidade nunca é de noite, nunca é de dia. Faço desenhos quando o silêncio chega ao fundo, desenhos geométricos, dou-lhes nomes bárbaros, e grito-os com voz de menina, como se gritasse as árvores de estrondoso tamanho.
Uma janela voltará para o lago. As roupas dei-as ao fogo, cubro-me do calor e do frio. O meu corpo canta dentro dos leões marinhos, e esse é um horror que ninguém conhece na cidade. Mas é assim com todas as criaturas, não há outra razão para desenvolverem novas formas e se adaptarem ao meio ambiente, o corpo não acaba no corpo. Esse horror não se conhece na cidade, na cidade, o corpo acaba no primeiro limite: a mente, e não chega a existir.
Dou por mim a perguntar-me se penso mais com os pés nus do que com a cabeça, pois pisando o granulado conheço o texugo no subterrâneo, e a sua filosofia é simples e sábia: nenhuma. A minha filosofia não é tão simples, e nunca tão sábia: procurar o Senhor Lagarto, que virá a criar pela primeira vez as cidades feitas de lavatórios e tribunais, os balcões, a tecnologia, a terra gasta e moída, a álgebra, os oceanos, as trepadeiras, os leões africanos, a surda solidão após a tempestade, os ilimites, os seios parecidos com os calcanhares, os caminhos em linha e os sem traço, as coisas, e as minhas mãos, e procurar este Senhor Lagarto somente nas minhas mãos, feitas de desgaste e força, passado e passado.
Babalith
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Poesia Insustentável Auto-Sustentável
Sonho no terraço fora, o intermitente placar
Da Coca-Cola, faz nascer bagos de gás,
E se vislumbra o ruído dos aviões
Sem piloto, riscarem os sofás.
Um caminho frágil agarra a harpa
As linhas do metro agitam-se,
Genuínas e inalteráveis em mutuo amor,
A água deserta, a grande paz interior
Nada dorme, e o mundo
Suspenso, sem folhas ou silêncio.
A poesia toma o sabor dos ritmos
E cresce colossal nos insustentáveis mecanismos.
Nos prédios, as luzes não se apagam,
As luzes piscam sobre a sombra invernalE se vislumbra o ruído dos aviões
Sem piloto, riscarem os sofás.
Um caminho frágil agarra a harpa
As linhas do metro agitam-se,
Genuínas e inalteráveis em mutuo amor,
A água deserta, a grande paz interior
Nada dorme, e o mundo
Suspenso, sem folhas ou silêncio.
A poesia toma o sabor dos ritmos
E cresce colossal nos insustentáveis mecanismos.
Nos prédios, as luzes não se apagam,
A cidade em extensão perpétua
Cobre de cinzento o Sol matinal, mais digo:
Quando o mundo acabou, estávamos,
Imagino pelo pisca-pisca vespertino,
Perto do Natal! As lixeiras confundem-se
Com a minha presença de volta nos trituradores
Ruidosos. E danço danço danço a passos
Luminosos, sob a pista dos nossos,
Ossos em lata.
Ah, que havia uma engrenagem, lá perto
Da estação fantasma, onde se ouvia um tal de Dante
Cantar coisas de miragem. Quando tenho febre,
Sei que tremo como as fábricas.
Há alarmes e carros, e toda eu tenho nisso
Veias e maquinismos que são todos
A linguagem.
Na aparelhagem ouvi uma canção
Que era de um século qualquer
E lá se dizia, que o coração
Tinha a forma de mulher.
Os olhos são as lanternas,
Os holofotes em cisternas
As cabeças rapadas dos postes de contenção
Não passam pessoas, vejo só
O seu clarão.
André Consciência
Cobre de cinzento o Sol matinal, mais digo:
Quando o mundo acabou, estávamos,
Imagino pelo pisca-pisca vespertino,
Perto do Natal! As lixeiras confundem-se
Com a minha presença de volta nos trituradores
Ruidosos. E danço danço danço a passos
Luminosos, sob a pista dos nossos,
Ossos em lata.
Ah, que havia uma engrenagem, lá perto
Da estação fantasma, onde se ouvia um tal de Dante
Cantar coisas de miragem. Quando tenho febre,
Sei que tremo como as fábricas.
Há alarmes e carros, e toda eu tenho nisso
Veias e maquinismos que são todos
A linguagem.
Na aparelhagem ouvi uma canção
Que era de um século qualquer
E lá se dizia, que o coração
Tinha a forma de mulher.
Os olhos são as lanternas,
Os holofotes em cisternas
As cabeças rapadas dos postes de contenção
Não passam pessoas, vejo só
O seu clarão.
André Consciência
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