terça-feira, 5 de março de 2013

No Céu - Um Mimo




baseado num sonho de Constanza Muirin



Caminho sem esperança, animado pelo tráfico de espíritos, pelo céu nocturno das cores mudas com que gesticulamos e nos acariciamos na visão repetida, na praça aberta preenchida, nós mesmos em paredes que igualizam as nossas paixões. Distorcidas pelo bem vestir inviolável das roupas clássicas. A civilização só nos chapéus de renda, nas boquilhas, no preto e também no branco. Agito-me, e a agitação toma-me o poderio da vontade. O eco cresce, há uma eternidade dos meus passos. O conhecimento é um espelho dos meus passos, as minhas memórias foram moídas e tornaram-se losangos  Os outros mimos emitem no conjunto das suas tempestades, por vezes abafa o ruído imperturbável de mim a desaparecer. O meu histerismo quieto e impotente encontra uma mímica serena e lunar, como um aguaceiro que se gera a partir do Oceano dentro do Oceano. Alguém caminha longe, porque ninguém ficou, e esta noite não passa. O céu paralisado a cada vez nos pés inquietos e sem cessa. Tudo está bem. Num dia, como tu, posso imitar o ajudante do pescador, a noiva de Buda, o taxista em Viena, o homem com bengala no fundo do crepúsculo, e no entanto, tal como tu, não posso sê-los: ninguém pode ser, não posso ser quem escreve o presente texto ou quem lê, porque tu estás dentro de mim. O primeiro que abrir os olhos, desaparecerá: os sinais luminosos não existem para ancorar o espírito. As paredes da praça atiram o mundo inteiro em avalanches ao centro. De fora, a ver-te para sempre, esqueço-me de tudo e tudo volta à procura.


Horned Wolf

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