terça-feira, 5 de abril de 2011

Viagens Marítimas (segundo fragmento)

Procession of Spores - Martin Madsen

VI

Plantas aquáticas deitam a dormir luz escorregadia
Túneis de áspera rocha inclinam-se, sem fim,
Com a suavidade do pescoço das bailarinas,
Todas as portas pesadas dão para penhascos
De parede, salpicados de grutas, anémonas,
Protuberâncias.

Não podes cair, suspenso na água
E transparente.


VII

A moreia estremece e morre
Vagarosa pela água
Os seus dentes de agulha
Ondeando na corrente.

Passa, sobre o jardim
Um galeão afundado
Um palácio de cúpulas
Sem cobertura.


VIII

No palácio bóiam uniformes,
Cores de jóia, membranas e dedos,
Pele que encarquilhou.

O musgo marinho interessa-se
Por todas as curiosidades,
De si saem cortesãos sumptuosamente
Vestidos, salões de audiências,
E um inchado Peixes-Rei
Que ao pronunciar-se
De respiração saliente
Com dificuldade olha.

A bela adormecida no topo
Tem que nenhum fidalgo
A possa despertar.


IX

A princesa jaz perpendicular
Num fofo leito de musgo
As pérolas parecem olhos
O jade lembra a pele
As algas trepadeiras, dedos.

Acotovelam-se cortesãos.


X

Farrapos de pé, mastros
Flutuando na corrente
Penumbras repentinas
Ostras amontoadas
Por aranhas-do-mar
Paredes derrubadas
Pelas linhas do barco.


XI

Os jardins submarinos têm portões de ferro
Que não aceitam ferrugem,
As árvores nascem peixes coloridos
Em vez de pássaros.
A pouco e pouco, jardim-floresta,
Rugido repetido e à escuta,
Do peixe-leão,
Vivendas de vulgar aspecto
Fazem-se rodear por arco-íris.

Entre arbustos, um gato.


Horned Wolf

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