segunda-feira, 4 de abril de 2011

Viagens Marítimas




I

A bordo de navios, veleiros, barcos de guerra,
Carcaças ao lume, vagabundo das experiências salgadas,
Com a calmaria absoluta das tempestades dentro
Da pele, perdia-se a conta das criaturas que degolara.

Igual a um Peixe-Sol na areia preta do oceano, desfraldado,
Rapina marinha, salta a amurada.
O sabre descose a carne, a cavilha de ferro é uma bailarina
No miasma da noite, e assim como pastam as chamas
As águas profundas deleitam-se nos cadáveres,
E só a brisa é refúgio dos piratas.

Rios grosseiros amarrados ao mastro, casacas
Um dia elegantes, homens debaixo da quilha,
Na bandeira, iscos, pão preto, carne e sal.


II

Peixes corrosivos ganham cor
Verde-mar
O oceano não é profundo,
E há recifes de espirais de coral.

Pátios e algas, pés no fundo,
Pátios luminosos, bolhas
Uma estrela gigantesca,
A água fria e cordas nas mãos.

A garganta roça-se na espada polida
Á procura de se soltar.


III

Azulejos vermelhos, verdes,
Brilhantes e limpos por algas
O pátio invadido por restos
De corais.

Pedra cinzenta dos prédios
Um alto, conserva-se sobre os outros
E peixes que nunca foram peixes
Observam como anjos
De dentro das janelas.


IV

Sereias, de pingentes em forma de búzio
Nos vitrais da nossa catedral,
Ao anoitecer, respirar debaixo da água,
Como quem canta.

Pérolas negras flutuam entre beijos
E as ondulações das caudas,
Escadarias, buracos escuros.


V

Leveza ágil, portas abertas à força
Daquilo que apodrece,
Moluscos prateados, silhuetas,
Do tamanho de homens delgados,
Homens só com olhos e dentes
E gulas dementes.

Moedas de ouro.


Horned Wolf

Sem comentários:

Enviar um comentário