segunda-feira, 8 de abril de 2013

Mas...

C. M. - André Consciência









Lá fora estão as ruas. Os campos. Eu estou dentro de mim.
A minha solidão acorda de manhã e põe-se a dar os meus passos nos meus passos.
Os grilos cantam e eu fiz uma fogueira, os grilos também crepitam dentro de mim e a fogueira está sozinha.

Eu sou como uma planície verde e sempre jovem que o homem não tocou
E eu toquei-te.

Eu sou como a lua antes da primeira mulher chorar
Ou os balões que sobem no céu e nunca mais se perdem.

E neste ser assim sempre jovem e invocado
Tu deitas-te no meu prado como um sol a arranhar-se contra as pedras
E a ficar suave
Eu permaneço ermo e cheio de ti e só existo eu
Sozinho
E uma fogueira que um deus fez nesta terra neste eixo de sangue
Antes da primeira morte.

Lembra-te de mim
Ainda que a minha velhice
Faça recuar o fim do mundo
Lembra-te de mim para sempre
Mesmo que breve tenha sido o nosso discurso
E a minha abóbada não estremeça
E eu seja límpido como o azul
Sem haver ainda a tinta
Lembra-te de mim enquanto tremo
E a ausência estala a carne
Porque nunca houve parte de mim
Que não fosse renovada
Por eu ser parte dela.

Ama-me para sempre
Mesmo que tenhas prometido
Que eu fiquei atrás
De ter ficado aqui.


André Consciência

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