sexta-feira, 20 de julho de 2012

Aneis de Vénus

Venus Disarming Cupid - Parmigianino

Prato 1

Vénus, com um lampião numa mão, uma rosa na outra, uma espada na terceira e uma foice na quarta brame para o sacerdote do fogo secreto - mero aspirante, neste caso -, que foi da luz e depois vendado pois de outro modo os seus olhos consumiriam o mundo:

«O segredo desta porta é ser em oposição a ter»

O aspirante pôs-se a pensar, demorando-se.

Vénus: 

«Estávamos a conversar, mas deixaste de me olhar»

O aspirante:

«Se não pondero movo-me no mundo como uma besta, e sou apenas o que me dá o universo a ser. Sem a razão o homem cai num buraco do qual não poderá sair mais tarde - nisto os escolares não estavam errados, arrisca a condenação que dura sempre»

O anjo que mencionamos sob o nome de Vénus:

«Muitas vezes confunde o profano a vigilância com o pensamento vago e vagueante onde se perde e se faz distraído - esta é que é a tentação do ter. Fecha os olhos longamente, no escuro, não te movas e fita a chama do teu fundo, sob pretexto desta questão. O que vedes?»

O aspirante:

«Um homem. Ficou cego. Ficou cego por muito tempo e os seus olhos tornaram-se estrelas. Este homem vê dois mastins a combaterem no Inferno»

O anjo:

«E atrás desse véu?»

O aspirante:

«Um homem ficou cego por muito tempo até perder o medo da escuridão, e quando perdeu o medo os seus olhos tornaram-se estrelas. Um dia este homem viu uma mulher cuja pele era branca como a Lua e os olhos dois astros azuis. Porque não tinha medo, combateu-a e amou-a. Com ela deu à luz filhos e gerou vida, apesar da mulher ser a morte»

O anjo:

«E atrás desse véu?»

O aspirante:

«Um rei construiu uma muralha para preservar a civilização. Emparedou-se na parte externa a vigiar para fora, de forma que só aqueles sem motivos para temer a luz do rei fizessem estadia no seu reino»

O anjo:

O anjo calou-se.




Horned Wolf

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