segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Lisboa




Belém sombreia o Tejo.

As esplanadas a deslizarem
Para o despenhadeiro das margens.

Minha mão a calcar os Jerónimos,
A planar a fria cidadela de onde
Um urbano castanho se esguincha.

Ouve-se a chuva nos telhados
Romanescos.

É desconfortável um mundo
Em que haja céu visível
Sem telhado inteiro, ou outro
Embaciado.

Lisboa é um tecto para baixo
Uma beleza que fez nascer
Calçada, fumo, portos
E o terror do firmamento
Confortavelmente tapado.

Este conceito do belo decresce
Conforme diminui o outro conceito
O do terror. São cercos a Lisboa.

A estética a bater a punheta
Com as mãos de um general inagarrável
Pelos séculos.

A Graça desce na cidadania do vento,
De embate às molas da insónia
E à sofreguidão messiânica do futuro.

Um rio terroso vai avançando
E subindo o cimento. Abrindo-o,
A Travessa de S. Vicente,
Um andar soterrado
E sem felinos, acaba.


II

Cidade de luz, à noite.
Cidade de noite, à luz.

Os inspectores-de-fora viajam
Para o lodaçal Lisboeta
Reportando um velório criminal
De que nada é
Excepto na medida
Da sua intrínseca
Inexistência.

Os bairros encavalitados
Com as pedras da loucura
E Bosch num trono de poeira
Luminosa, a olhar sobre a cidadela
Corvo.

No piso inferior, Jerónimo
De Sousa, deixa-se sodomizar
Pelas investidas sensatas
De Artaud.

Os trabalhadores faltam
Bebem chá verde
Por dentro de garrafas.

Montículos de fogo
Na tua boca
E que a cidade não se pronuncie.


Horned Wolf

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