terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sombra Fresca da Terra




Gostava que cantasses, mãe
Debaixo da rocha, e na falta que nos faz
Os que partiram estarem.

Gostava que cantasses, mãe
No cruel abandono dos bosques
Onde pernoita o horror
E soltasses de ti
Uma ‘sperança, um fulgor,
Uma luz contínua e escorrida
Que acreditasse o amor.

Gostava que cantasses, mãe
Nas lágrimas, dos macacos-narigudos
Morcegos-raposa e folhas de palmeira,
No rio, que chilreia,
Na cidade com dor-de-peito,
E no solitário que dorme
Sem leito.

Gostava que cantasses, mãe
As palavras de consolo,
De toda a fatalidade, inexorável
Ou me soltasses do mundo
Como o que sou, um projecto
Irrealizável, e que passou.

Gostava que cantasses, mãe
Existir eu, e em mim nem tu
Nem ninguém.


André Consciência

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