domingo, 5 de julho de 2009

Vila Final

Orangotango de Sumatra - Autor Desconhecido




Ela têm um pesadelo que é meu.

Passo as horas ali, no final da vila, numa fabrica abandonada, encostado à árvore que está no final do mundo e que estala de Noite com tecidos oraculares. Ás vezes passam pessoas, com cães, no escuro, e com cães escuros. Estou na bruma, sinto-me invisível porque sou um fantasma. Tenho cada vez mais a certeza. Mesmo quando me olham como se eu fosse um louco, percebo que ninguém nunca mais me porá a vista em cima. A não ser ao jeito de assombração. Os tijolos singelos e abandonados, encosto-me todo a eles. Assobiam, ocos, ao vento. Sou todo eles. A lua é uma ferida de luz no meu sono, e assim são os meus sonhos.

A solidão somos nós, e somos nós todos vistos do meu corpo.

As vossas presenças são como pedras, mudas, frias, arremessadas contra o meu corpo imortal, como árvores que morrem e que nunca serão derrubadas. Como mundos de florestas que morrem e que nunca serão derrubadas. Onde só os deuses dançam, horrorizados de tão fantasmagóricos.

A luz verde e que é uma doença e que é como se fosse o amarelo da febre talvez.

Estou tão cansado. Pálido. Existem rugas em mim esta noite. Visíveis. Só as rugas são visíveis, eu sou leve e transparente.

Porque não vieste? Não queria ter vivido para sempre.

Perto das linhas finais, alguém me pergunta alguma coisa sobre anjos. Só respondo quando me perguntam as coisas dos anjos.

Teço uma resposta e acabo, antes de me meter no comboio e ser consumido pelas lâmpadas confusas.

4 comentários:

  1. As tuas palavras têm tentáculos e arrastam-se lentamente até me chegarem à alma e ma amarfanharem...

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  2. Eheheh! Por acaso não tinha pensado nele! Mas não está mal, não.
    Embora não seja propriamente "terror" o que as tuas palavras me inspiram ;)

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  3. Sou o Cthulho da parvoice, tanto queixume e delirio... é a puta da pneumonia.
    Numa de Adolfo Luxuria Canibal digo que
    "Estou farto de mim!"

    PS: A "Vila Final" é o Penteado, mas inclui a Moita em alguns textos (e possivelmente em alguns incluirá o Barreiro). Até desta terra (Penteado) que é mais das ovelhas e dos cães da rua do que dos homens vou ter de sair.

    Se me instalar numa gruta qualquer dia os turistas mandam fazer lá uma casa de férias.

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