terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Malak IV


Annunciation - Boticelli


Os homens aproximaram-se mais das mulheres, ao entrarem na mata, e os anjos receberam archotes, aos quais foi ateado fogo com uns carvões em brasa levados em vasos de barro perfurados. Os anjos (rapazinhos) corriam para trás e para diante no atalho, agitando os paus fumegantes e gritando para atrair as raparigas que poderiam aparecer para engravidar. Lá mais adiante, as meninas tinham começado a cantar e o volume do cântico aumentava, à medida que o povo ia apanhando a melodia. Passou para os que caminhavam atrás, sem que os anjos se lhe juntassem. Um pombo saiu de entre as folhas, batendo as asas e partindo na direcção do Sol.

Horned Wolf

domingo, 29 de janeiro de 2012

Homem Azul


Blue Man of the Minch - Marion Boddy-Evans


0 - The Fool

. I like to watch the bulls, they eat the corpses
. . and I saw that it was good
. I have spoken to you
. Search for childhood


1 - The Magician

. Care not to explain
. . Act by instinct
. ' . Search no reason for your actions nor for others actions
: : Endure.


2 - The Priestess

. They gave the beast to the inner man, and told him how to act.
. . The beast stopped at will, to utter: I won't be corrupted
. ' . Therefore he broke his own prision cell and spilt it's magick blood. In this the spear of Will.
: : To act by instinct is to come to the perfect understanding of one's inner senses and outer limits.


3 - The Empress

. There is something that we remember still
. . A love not lost nor growing ill
. ' . There is a Way where we belong
: : Let it be inside all wild's god's song


4 - The Emperor

. A Titan, you my BABALON
. . Standing Sin on the Sun
. ' . All is still in your Will
: : Silence, and I know that you are God


5 - The Hierophant

. I am in the edge of the stars, as that litlle drop of melting semen
. . Mine is the substance that dares and mine the fall
. ' . If men fall not how can he dare, if men dares how can he not die?
: : Men must be broken, in order to rely on himself, says the reaper


7 - The Lovers

. Her's the waving music and her's the cube: both in union, both in paradox
. . Open legs to heal the wound
. . Now the dogs of envy ravish upon your soul
: : Let the swan go, and accept the dove.


8 - The Chariot

. I did spread myself in light for my delight
. . and I saw that it was good
.'. That my actions are as but reflections
: : Under the night of PAN


9 - Justice

. In brilliant gallant white
. . She comes serene, all confort's night
. ' . She holds my hand, and now we mend
: : Her's the Word of Light


10 - Wheel of Fortune

. Nothing comes out of nothing
. . Two points of light are beginning to contact
.'. There is a fire burning bright
: : To let their children loose, dancing to it's curse


11 - Fortitude

. You are heading down to death
. . All seems perfect, even the sky is brighter
.'. You feel like flying
: : But there is treason in everything: You are doomed to die daily


12 - The Hanged Man

. We all reunite, black roses, white dead bodies, we smoke and make a song out of a poem
. . We sing about the dead ages and call it the new way of life; we valse around the dead whore drinking bad wine
. ' . Aries circling upon me
: : I travel the world to the tall Towers of Fall;


13 - Death

. Once for sleeping, twice for dreaming
. ' . I will bind you to me and tell you: love me, desire me
.. Cold and exhausted
. We will make flesh out of love,


14 - Temperance

. He has the tail of knowledge, and the horn to wake the dead, make women pregnant, and call to war
. . There is an army of dogs, there are the dogs of envy, the master exorcists, and all those whirlwinds to attract the end and the begining of the world
. ' . There is a queen and that queen is lust, she sits on a throne for Therion to subdue, her's is the net ruled by the king, she is the net and he is the spider named "slaves shall obey"
: : The beast for the men, the men for the beast


15 - The Devil

. Lamed: death as an egg
. . There are no places, there are worlds,
. ' . they veil their faces to reveal their nature; they won't see you, because you think too much, you are the dream, but they the touch.
: : Now the virginal bird of wisdom eats it all, Do what thou Wilt, there is no fall.


16 - The Tower

. The Temple of the Black Egg and a Cross; The Temple of the Six Pillars and a White Singing Maid:
. . The Snow Vestal lights the candles. She is the light that flickers in the night.
. ' . The horned women is clothed with the sun: she is the dealer between the serpent that has risen and the bird who has fallen
: : The duty of all lovers is to battle.


17 - The Star

. Blank.
. . There is a secret in desguise, it can't be hidden from the light
. ' . In your realm your appearence will throw me back.
: : I dream of nothing but reflections now.


18 - The Moon

. I change to the colony of insects, I leave the hills of the sun and happily burn in the city of the night
. . a valkyre binds me to her body of stars.
. ' . I am granted three shadows from the world of the living
: : Temptation is the key to Initiation.


19 - The Sun

. . In your realm I call to thee
. . She turns to old flesh
. ' . Now if you see him, that mourns his soul-mate, the one with wounded hands, take no pity
: : Blind fear might drive you Home


20 - Judgement

. On and on, called by the name of correlation. Nobody knows there is something else.
.. We follow the train of our thoughts with heavy shoulders and deep voices.
.'. But I know what's on the other side, and I have come to the knowledge of a world outside.
: : I have entered trough the closed door.


21 - The World

.. The Keeper will smash my legs and will me to fall
. ' . she is the perversion of the Will
.'. But I know life is but a dream
: : at the door of Void


Horned Wolf

sábado, 28 de janeiro de 2012

Ketsár-ruách



Luz

Pisei o templo, com luz no pescoço
Pulsante, o meu movimento
Era amor que vai contra o tempo.

Que liberdade maior, que ser-se Deus
Nas rotas infinitas de um adeus,
Ou o harpão de Neptuno
Nas mãos benditas de Juno?


Obra a Negro

Um Deus munido de conas
Arrastou-me a peregrinação
Do sangue
E largou do meu coração
Quebrado como uma maçã
Arrojada e podre
As sementes que hoje são voz.

Ah, por amor deixei cair
A própria dor,
Pesa-me a ausência
E esperar que cresça
No centro esvoaçante do Inverno
O Verão Eterno

Nas nossas bocas.


Saturno

Escuta, a luz parou de cintilar
Há aranhas nos veios tubulares
Que rodeiam a garganta, esganada
Deste cão negro e sem nada
Deste deus que se vira para morar
No traiçoeiro mar
Da luz sem vento.

Quantas ninfas se estendem para mim
Com seus membros de marfim
E quantos coros na voz de um serafim
E quantos eunucos se contorcem
Para a vivência palpitante do meu pénis
Com cores de arco-iris
E depois as mãos aguadas com sangue
Os membros lavados com sangue
As pernas de pau espetadas
No abcesso do que havia de ser asas
Pénis retalhados na mesa de cinza
Colocada sob a testa de um equilibrista sem peso.

Come rosas, aspirante ao fogo secreto
De noite olha o céu e não deixes nenhuma estrela
Sair do eixo, não fites tampouco o chão
Porque o chão esmaga-te.

Não esperes superar-te, massa de pó
E pedaços de marisco cansado.

Olha, como a tua amante te morde as feridas
E confunde o pus com a luz.
Esconde-te do mundo, sua merda.
Esconde-te do mundo.

Despedaçamos-te com uma multidão de sorrisos
E seguimos-te o rasto para o paraíso mecânico
Das velas sem pavio.


Lua

O açúcar amarelo, de manhã
A palpitar de embate aos resíduos
Do ar da noite.

Sabias que te amo? Amanhã também
E enquanto o globo for portador de electricidade
E a paixão for uma miragem, uma vaidade
E a verdade sair do cu
E não de Nu.


Mercúrio

Mercúrio, alinhado com aquele augúrio
De se falar sem língua nenhuma
E deixa que o filho esgane o pai
E do seu estômago escapem promessas
Com mandíbulas várias
Para comer assim devagar
O peito de quem ousa amar.

A candeia de vidro em prata
Derrete-me a pele, Pai.

Derrete-me a pele
E não há no mundo
Terror maior
Que perder a forma humana.


Vénus

Em Vénus, deveria escrever com desenhos bonitos
As figuras todas do fotograma
Dos teus movimentos quando vieste
Das longínquas espanhas.

Não temas, que eu me lembre de ti
O teu fogo é no meu, e será sempre
Aqui.

A luz do meu pescoço está no teu
Agora
E tu és menina que guardei nas praias
De outrora
Nunca mais dormi
Os meus olhos são estrelas
Ardem em ti
Quando os reconheceres
Dormirás
Para eu poder dormir.

Para eu poder dormir.

No fim de tudo.
No fim de tudo.
Praias lamacentas.
Nós bébés
Com placentas.
Por favor.
Nós bébés
Com placentas.

No fim de tudo
Um nenúfar abraça uma jóia
No lago escuro
Da solidão
Ainda o muro.


André Consciência

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Conto da Venda



A sombra das nuvens engolia a passagem, enquanto Miguel e Gabriel corriam em direcção ao Tempo. Gabriel estava nua, tinha frio e estava assustada. Miguel também estava receoso, mas o povo da fronteira era famoso pelas suas riquezas e a ganância de Miguel era superior ao medo de entrar no tempo.

Miguel dirigiu-se à antiga entrada Sul, onde uma estreita labareda levava ao fogoso interior. Uma vez atravessada a labareda, Miguel pôs-se de gatas e rastejou por entre as aveleiras. Gabriel seguiu-o com relutância, sem querer ficar sozinha na passagem quando estoirasse a ira de Deus.

Para surpresa de Miguel, o Tempo não estava completamente coberto de arbustos, pois havia o Espaço, no local onde se situava a Casa dos Mortos.

Alguém deveria já visitar o Tempo, porque as ervas daninhas foram arrancadas, a relva cortada com uma faca e apenas uma caveira humana se encontrava aí, no local onde se sentava agora um forasteiro, encostado à única coluna que restava do tempo. O rosto do homem estava pálido e tinha os olhos vendados, de modo a que não consumisse o mundo, mas o seu peito subia e descia, com a respiração.

Horned Wolf

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As Novas Criaturas - The New Creatures (excerto)





Frescas poças
de um terreno cansado
afogam-se agora
na paz do crepúsculo
Fraquejam nuvens
e morrem.
O sol, caveira laranja,
sussurra sossegadamente, torna-se
ilha, & parte.

Ali estão
observando
-nos tudo
será escuro.
A luz modificou-se.
Éramos atentos
até aos joelhos no ar palpitante
enquanto os barcos empurram
comboios a despertar.


Jim Morrison
Traduzido por André Consciência

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A Coroa da Inocência


Death Crowning Innocence - George Frederic Watts




Um homem morto no meio da rua
Sem ninguém que o enterrasse

As valas estavam bordejadas de flores
Porque era Primavera

A morte encharcava os novos pastos
Os cordeiros brincavam, as lebres saltavam
Cresciam as anémonas e a murugem.


Horned Wolf

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

The Garden of Earthly Delights


The Garden of Earthly Delights - Hieronymus Bosch



Havia prostíbulos nas igrejas
Adivinhos nos quiosques

As crianças brincavam nuas
Algumas empunhavam
Pequenos cães irritados.

O cemitério espalhava-se
Pelos esteiros com as suas
Mulheres.

O vento cheirava a sal e a
Decomposição.

Um caçador coçava-se no canto do aposento
Um marinheiro no cais soltava uma chuva
Um demónio despido pelas ondas, corava.


Horned Wolf

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Iluminura

O homem atormentado pelas bestas, no códice Comentários ao Apocalipse, do Beato de Liébana


O Senhor caminhava sobre as aguas da Galileia
Abaixo, as almas caiam no fogo do inferno.

A única luz da igreja provinha
Da silenciosa língua de São Renano:
Tratava-se de um livro.

O livro sobrevivera à queda da cidade.

Senhoras vestidas de negro estavam ajoelhadas
A rezar na nave,
O livro por baixo dos sexos.

Soprou o pó e as teias de aranha
Colocando-as ao lado das velas.

Uma das mulheres sussurrou que ele estava
A ser ímpio.


Horned Wolf

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Retumbar Numa Caverna Profunda




Mostrou umas pernas
Quando levantou o vestido para calçar as meias
E parecia muito frágil
Ao mesmo tempo que levava um dedo aos lábios
Saiu pela escotilha da cabina para se vestir no convés
Pálida como a bruma e esguia como uma flecha
Uma rapariguinha.


André Consciência

Nas Sombras da Porta da Igreja

Gustave Doré


Focas e estranhos animais marinhos erguiam-se do leito do oceano para uivar à Lua em quarto crescente, começando depois a cantar acerca de marinheiros e de um cego que tocava harpa num canto da taberna.

André Consciência