domingo, 22 de maio de 2011

O Horror dos Templos V


No baixo-relevo da Estela da Vitória, a arte mesopotâmica imortalizou NARAM-SIN que, na cabeça, traz a coroa de chifres, reservada aos deuses


De elmo na cabeça desço as escadas, cautelosamente,
Magro, arrepiante, e de roupas andrajosas, tenho os globos
Oculares na boca.

Morte e líquido, cortinados adamascados caiem
Do tecto até ao chão.

Salas sujas de sangue seco em pó, baldes
Baloiçam do tecto pendurados em cordas.
O arco baixo com o seu esgravatar com a cabeça preta
E longa de um insecto, ossos velhos espalhados
Nas lajes de pedra.

É certo que
As criaturas pavorosas gostam de se pôr
A pairar no ar a impedir todas as passagens
Redondas, são possuidoras de olhos tamanhosos
Verdes e escamados, cobertos de espinhos
Adormecem lançando olhares
Um espelho cai e quebra-se.

O olho, vaporoso e tóxico, corrói o chão,
O mundo enche-se de orifícios de ventilação
Mas preferíamos nunca haver um primeiro sopro.

O homem moderno é sempre alto, semelhante
A um réptil, usa armadura e curvatura de espada,
Todos guardam, entricheirados, sacos empilhados,
A dormir muitos, muito redondos, por solo:
Homenzinhos escanzelados e agachados
Cobertos por sacos de batata rasgados.

Ah, leitor, para entenderes esta leitura dos templos
Basta fazer-te chegar que esta terra esteve abandonada
Durante muitos anos, mas aos poucos descoberta por homens
E outras criaturas que o abrigo clamou. Costumam atacar
As carruagens que passam, à procura de comida:
Assim a sacerdotisa e os seus escravos organizam o mundo.

Chiu, a esta altura o corredor desemboca numa lúgubre câmara
Onde, de caudas de macaco nos bolsos, dois homens ratazana se entretêm a mascar
A carcaça de um duende.

Pára por um momento, e observa a civilização:
Um baixo relevo de criaturas horrorosas
A ser consumidas pelas chamas, se entrares
Descobres uma grande pilha de ossos
O covil escuro do negro cão da morte
E à medida que rastejas por seus túneis
A luz vai desaparecendo até não veres um palmo
À frente do nariz.

Vislumbre tardio de luzinhas que dançam
Trémulas, na penumbra tunelar
Zumbem sonoramente, com o barulho da idade
Da electricidade.

A água jorra da boca de uma cabeça de leão
A água agita-se quando o monstro se move
E já só o horror dos templos nos comove.


Horned Wolf

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