A Calling - William Adolphe Bougeureau
O chão axadrezado, as paredes brancas, uma janela no tecto. Não me vou pôr a embelezar a coisa. Está incenso e luz de vela e lenço estranho com várias cores no altar. Eu com uma pia prateada nas mãos. Procuro não mostrar medo, para não desapontar os crescidos, todos de branco, eu de branco. Bem que podia usar um vestido de menina a ser baptizada – era mais... Falta-me a palavra. Era mais literal. A maior parte das vezes, na sua casa de campo com jardins delirantes, o velho está sozinho comigo, de negro, como um carpideiro, e espalha cinzas na minha testa e na dele para depois administrar a hóstia e fazer-me a queimadura e o sangue. Durante aqueles dias não posso deixar a sala, a Lua entra pela única janela (que está sempre fechada) e o Sol, no espaço frente ao altar, encandeando o resto da sala. Mas há um… Perdi-me. Há um pássaro, isso, um pardal que entra na sala hermeticamente selada, de vez em quando. Canta com muito eco e acaba por se ir embora. O velho dá-me de comer só pão e vinho e rosas (rosas, para não de me ferir muitas vezes). Hoje, ainda como rosas. Às quatro da tarde lê-me as escrituras e canta no que hoje julgo ter sido hebraico, mas não faço ideia, e fica ali, muito magro, a balançar-se para trás e para a frente, depois. Se me apanha a masturbar bate-me com a vara – é uma das coisas proibidas durante o tempo de preparação. Nos últimos dias traz o espelho e tem-me despido quando me lê as escrituras. Só aparece às 4 da tarde, mas a comida e a bebida só devem ser tomadas, restritamente, às 9 da manhã e às 9 da noite (a água várias vezes). Devo orar ao amanhecer até se estabilizar a manhã. Ao entardecer até se estabilizar a tarde. Ao anoitecer, e dormir de forma repartida, de modo que nunca restem vestígios do dia-a-dia. Uma vez chamou outras pessoas e chamou outras vezes. No dia em que o anjo finalmente vem e eu tenho de pôr a cabeça na bandeja de prata a primeira coisa são as fezes e a urina que não se controlam e o liquido seminal e a saliva e as lágrimas abundantes.
Horned Wolf
Tu és fodido... ;)
ResponderEliminarLembra-me a cena d'A Noite e o Riso, a ANGÚSTIA EXISTENCIAL do moço - e eu ando a ver se saco uma tirada fixe para o Vítor Mácula. Lol!!!
Um enorme abraço!