II
A rapariga solta violentamente a mão da mão do rapaz. "Retira, nesse caso, a máscara!"
Recebe um espelho e, colocando-se em frente ao rapaz, segurando-o a nível do coração, começa a falar sem som.
Faz-se um silêncio tremendo.
Depois começa a surgir som nas palavras:
"(...) a violência dos seus braços é a mudez do teu nome. Vê-me! Vento e Sol que se põe e a voz do nigredo no vento que tu ouves, «não salvarás», «não salvarás», és um de nós! Massa orgânica desesperada que quer sangue e esperma e dor cantada! [pausa surpreendida e deixa cair o espelho que se quebra] Pedem ajuda! E tu sentes tanto... Tanto. Tanto! As palavras deles começam a sair por ti mas tu nem sequer as apanhas e é por isso que tens tantas mascaras não é?"
O rapaz, que uiva e ri ao mesmo tempo, repete:
"É oan saracsam snet euq ossi rop é e sahnapa sa reuqes men ut sam it rop rias a maçemoc seled sarvalap?"
Abana a cabeça e diz: "Os desassossegados expressam-se por mim, em arte, e libertam-se..."
Ela responde: "Tu não podes liberta-los!"
"Não?" pergunta e ri-se.
Ela: "Não! São olhos velados que não podes libertar. São olhos velados que vêem tudo, e tu não vês tudo ainda, por isso não apodreces com a mesma rapidez mas as coisas apodrecem através de ti."
Ela apanha dois pedaços de vidro partido e coloca-os sobre os olhos:
"Não existe escapatória fora da ilusão de que o Sol renasce. O Sol só existiu uma vez e a sua viagem pela escuridão depois, foi para sempre. É esse o olho que te observa e o mudo e hórrido grito é o sonho pútrido de todos os mitos humanos."
Ele ri-se bem disposto e ela larga os vidros e ri-se e dão as mãos, animados, enquanto cantam uma canção de embalar sem palavras.
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