sábado, 1 de agosto de 2009

Promessas 1 *

HR Giger



Cara Filosofa dos Abismos, folgo em encontrar-te sempre curiosa, também um dia esta ansiedade de descobrir te fará morrer as sete felinas mortes, e nesse dia serás uma de nós. Por agora, satisfaço a tua indulgência na fornalha fraca de palavras poucas, para que talvez um dia possas vir a perceber muito em tudo o que é pouco.

(...)

Esforça-te para conhecer cada um destes animais de cor em ti mesma, e alimentai-vos primeiramente da sua essência. Só mais tarde voltarás o teu dom para as estrelas.

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O prazer é, indecorosa e delicada criatura, uma dilacerante luz guia, uma voz que queima e que abre caminho: não distingue, conhece; em si coabitam todas as vidas livres aprisionadas na experiência, e o seu nome é legião.


(...)

A deficiência de cada Vampiro é assim a particularidade, ou particularidades, do mesmo, sendo esta a sua derradeira e inquestionável perfeição.


(...)

Sim, aqui tens a verdade, não simpatizamos com o Sol da mesma forma que vós, porque vedes nele um potencial salvador e o dador da vida. Nós, fitamos-lo como um opressor e agoiro de cegueira. Contempla que o Sol caminha, tranquilo, pela noite eterna do cosmo, e quando se impõe ali no vosso céu diurno tapa toda a terra num túmulo de falsidade, já distorcido. Apreciamos a noite porque é cada um de nós um Astro Ardente, um Sol, uma Estrela, cada um de nós é o Sol quando o mesmo caminha na noite, e fazemos-lo na Terra. Só nos sonhos vossos ganhamos forma, assim como nas sombras da rua, e nos fantasmas que as mãos ainda desenham e abraçam. Somos os vossos desejos, a vossa dança com a morte, e o vosso trago de um vinho perpétuo. Somos o orvalho quando a donzela do que ainda é puro em vós, se precipita uma vez mais na gravidade da ilusão, e a borboleta se reduz a queimadura no Archote de Lúcifer.


(...)


O sangue dos seres vivos é pois, para nós, como o incenso, gerado da resina das árvores, se afigura para os anjos, ou mesmo como a prece de um coração puro e silencioso o é para Deus. O sangue é o único cântico e o hino único capaz de criar um ambiente sagrado em nosso redor, a partir do qual podemos penetrar as hostes da mortalidade e dos vivos.

Uma vez adquirido pelas nossas formas, este sangue é pois despido das suas limitações tanto como da sua castração, tornando-se numa essência pura ardente, com a qual brindamos, novamente, o mundo cíclico e sistemático dos homens comuns, que, sem as características inerentes à nossa imortalidade, se extinguiria facilmente, como uma vela a descoberto face ao gelado sopro do inferno.




No fogo e na bruma.




Mesh-ki-ang-gasher
* Ha uns anos (julgo), diverti-me a fazer correspondência, em papel, sob este nome. Hoje estava a reler as copias das cartas e hão de se seguir mais dois posts da autoria de Mesh-ki-ang-gasher, sendo que achei peculiar o meu bizarro passa-tempo (do qual aliás hoje já não me recordava).

4 comentários:

  1. Nota:
    Esta era uma brincadeira, com o intuito de inspirar a imaginação (a minha e a dos correspondentes). Não uma trama para enganar as pessoas ou para me alimentar da estupidez.

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  2. Eheheh, uma destas só podia vir de ti, mesmo! Deliciosa, esta tua correspondência ;)



    PS: Isso de já não te lembrares... bem, meu filho, lamento informar-te mas isso é Alzheimer!

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  3. É muitas coisas na cabeça. Não posso estar concentrado em tudo ao mesmo tempo.

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  4. Afinal publiquei inclusive uma das cartas na Revista Abismo Humano nº1.

    Alzheimer, pois.

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