O som subtil dos lábios que se separam num sorriso espontâneo cola-se ao ruído descontrolado da cidade de Lisboa, e um homem que colecciona os lugares colecciona as vidas. Lembro-me por exemplo dos teus pés frágeis, brancos na curvatura, a pisar as folhas do mato sobranceiro ao rio, a antiguidade muda da terra entre os dedos, a claridade de um fim de tarde que furava as copas a reluzir nos teus calcanhares, com todas as folhas, com a sonoridade móvel de todos os ramos. Dizem que na morte se torna tudo, e que se sabe talvez todas as coisas, mas é isto que é a morte, uma fotografia que está viva. E um dia voltamos aos lugares, estamos sozinhos a caminhar dentro do que também está dentro dos nossos, num anel de fogo somos os lugares e estamos a presenciar-nos, transparentes, quebrados, o Sol a atravessar as fissuras, a corrente das almas a resplandecer.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
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