quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A mulher dos moinhos de vento

Jose Del Nido


Uma veste cinzenta adejava em volta das suas pernas descarnadas, pele enegrecida mostrava os locais onde as chamas a haviam lambido, mas o tempo e a chuva extinguiam essas marcas. Leões, fumados com cinza e azul, perfilhavam o pavilhão, de olhos carrancudos. As paredes continuam despidas, e ela também. Espero um dia cobri-la com tapeçarias, cenas de piedade e devoção. A nossa janela dá para o bosque sagrado. Lágrimas rolavam-lhe dos olhos castanhos como o bosque e a Serva Branca ladeava-a sem dormir há uma quinzena, durante a qual os cavaleiros vagueavam pela mata de chuva lá fora. A Serva branca era uma mulher que usava só um olho, coberta por manto e capuz. O olho que lhe restava era terrível de contemplar, e as suas faces rasgadas e cheias de cicatrizes. A mulher dragão enrolou uma trança no dedo, estava a corar por baixo das lágrimas. Os criados estavam a trazer um prato de peixe, um lúcio cozido numa crosta de ervas e nozes moídas. Dela, os dedos pálidos acariciaram o ar enquanto na arena, os infiéis eram devorados por areias movediças e lagartos-leões. O resto é ossos e cinzas, uma vila inteira. Cães acesos como archotes corriam-na sem cessa. Eu estava descalço, vestido com uma túnica simples de lã não tingida que me fazia assemelhar-me mais a um pedinte do que a um lorde. Lá fora não haviam pardais, só árvores nuas a cismar, com os ramos negros a elevarem-se no telhado vítreo do céu. Um tapete de folhas mortas rangia sobre a minha cabeça. Sempre que fitava a mulher, recordava que as vidas são como chamas de vela, qualquer aragem vadia as pode cessar.  

Horned Wolf

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